Jorge Gabriel
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Aqui está um dos amigos que eu considero irmão. Não no sentido lato do termo, quiçá religioso, mas porque aprendi que com ele a vida é muito melhor.
É provável que já tenham ouvido falar dele, tê-lo visto na televisão, saberem que é meu amigo ou ignorem a sua existência.
É padre, chama-se Almiro Mendes e é, sem hesitações, das melhores pessoas que conheço. Decidi homenageá-lo porque possui um legado de dedicação ao próximo que bastava para traçar o seu carácter.
Domingo passado foi inaugurado um centro paroquial, em Canidelo, Vila Nova de Gaia, que durante anos foi uma pretensão da igreja, dos católicos desta freguesia, e de uma clara necessidade social de apoio, que uma infraestrutura desta natureza pode oferecer.
Apesar de sempre afirmar que um colectivo conseguiu erigir a obra, foi o Padre Almiro Mendes que aglutinou os esforços, moveu as influências necessárias, e aproximou os desavindos para que tal se tornasse possível.
Após décadas de serviço no Porto, na freguesia de Ramalde, aceitou o convite do Bispo de Porto, D. António Francisco dos Santos, para corresponder com aquela que se assemelhava a uma missão impossível, ir para a Paróquia de Canidelo, que não conseguia segurar um Padre há anos. Confidenciou-me que pensou tratar-se de um castigo, e como qualquer homem indagou a Deus que mal teria feito para não prosseguir a sua pastoral na igreja que tinha construído e onde tanto trabalho detinha ainda pela frente.
Não renegou a missão. Começou por impedir qualquer espécie de homenagem ou protesto por mudar de paróquia. Seria um desrespeito ao Bispo inaceitável, na sua óptica. Só não conseguiu que a sua última missa deixasse de ser uma celebração surpreendente, com uma série de testemunhos de agradecimento pelo tanto que deixava naquele local. Ainda hoje paroquianos de Ramalde o acompanham na nova missão, do outro lado do rio Douro.
Chegado a Canidelo começou por juntar sensibilidades, atrair boas vontades, e depressa atraiu as atenções do poder político que lhe solicitou apoio em programas de apoio social nas escolas mais próximas.
Logo no primeiro ano foi um sucesso. A sua inquietação fê-lo ter a audácia de perguntar ao presidente da câmara se poderia recuperar três pavilhões abandonados, apenas com as paredes a sustentá-los, para desenvolver um centro paroquial, e construir uma igreja digna para os milhares de habitantes da freguesia. Em boa hora o fez.
Concedido o desejo tratou de angariar, entre amigos, os meios necessários para construir um telhado, erigir paredes, mobilar as salas, pintar as mesmas num dos locais emblemáticos de Gaia, a Seca do Bacalhau.
Em tempo recorde a obra nasceu e ficou com o título “Cidade de Deus e dos Homens”.
A inauguração foi no passado domingo e os elogios ao mérito, ao trabalho e à filantropia do meu querido amigo Almiro “desassossegado” Mendes, levaram a que todos as palavras dirigidas pelo Bispo do Porto, pelo presidente da câmara, Eduardo Vitor Rodrigues, entre outros, confirmassem o que tem sido a sua vida: em prol dos outros.
Obrigado amigo, irmão, por existires, por me permitires ser teu comparsa e por levares da letra à prática uma das tuas máximas:
“Só erramos duas vezes na vida: quando fazemos muito pensando pouco e quando pensamos muito e não fazemos nada”.