No dia 6 de Março, Quarta-Feira de Cinzas, iniciamos a Quaresma de 2019.
A nossa Diocese do Porto decidiu tomar a figura bíblica do profeta Jonas como figura paradigmática da necessária conversão espiritual, pastoral e missionária. Vamos percorrer o caminho da Quaresma à Páscoa como uma viagem de quarenta dias que nos leva, de cais em cais, num caminho de saída e com saída, ao encontro reconciliador e renovador com “Cristo, porto da misericórdia e da paz”.
Jonas foi um profeta fugitivo, teimoso, queixoso, mas, por fim, fiel, e pode inspirar-nos e ajudar-nos na nossa caminhada quaresmal para a Páscoa. Vivia tranquilo e sereno, com ideias muito claras sobre o bem e o mal, sobre como Deus age e sobre o que Deus quer em cada momento; sobre aqueles que são fiéis à aliança e os que não o são. Contudo, Deus frustrou a sua organização, os seus planos, irrompendo na sua vida como uma torrente, tirando-lhe todo o tipo de seguranças e comodidades, para o enviar à grande cidade a proclamar o que Ele mesmo lhe dirá. Era um convite a atravessar, a ir mais além, a ultrapassar o limite das suas fronteiras, a ir à periferia. A Jonas foi confiada a missão de relembrar que os braços de Deus estavam abertos, esperando para curar com o Seu perdão e alimentar com a Sua ternura. Mas Jonas não conseguiu compreender e, por isso, fugiu. Também Jonas precisa de conversão.
Para ele, como para nós, trata-se de uma conversão integral, que se dirige à vida pessoal, espiritual, pastoral e comunitária e implica até uma conversão ecológica, porque as decisões do homem, para o bem e para o mal, implicam a salvação ou a catástrofe para toda a criação. Toda a forma de vida que há sobre a Terra é solidária e depende do que realizam as mãos do homem. Assim, a figura de Jonas, com o seu apelo à conversão e a sua resistência à missão, inspira-nos uma caminhada de saída da nossa zona de conforto, o que implica um caminho de conversão pessoal à misericórdia de Deus e conduz necessariamente cada um dos baptizados a contribuir para a necessária transformação missionária de toda a Igreja.
Vamos preparar-nos para a Páscoa caminhando! E todo o caminho implica uma partida, uma saída. Como a de Abraão, como a dos profetas, como a de Jonas, como a de qualquer um daqueles que, um dia, lá na Galileia, se puseram a caminho e saíram do seu pequeno mundo, da sua própria zona de conforto, para seguir Jesus.
Nesta caminhada até à Páscoa, Jonas é comparado a Jesus: “Assim como Jonas esteve no ventre do monstro marinho três dias e três noites, assim o Filho do homem estará no ventre da terra, três dias e três noites”.
Nesta Quaresma procuremos caminhar levantando o olhar para ver mais longe e encontrar dentro de nós o que havemos de deixar, para que Jesus, como Mestre, nos evangelize e evangelize através de nós. Caminhemos para chegar aonde nos levar esse olhar, sempre iluminado e movido pelo Espírito Santo.
A imagem desta caminhada, é o leme de um navio, recordando a aventura de Jonas e o próprio Cristo, que é mais do que Jonas; é Ele o Homem do leme, que não nos abandona nesta travessia, e que nos abre, a partir do encontro reconciliador com Ele, o porto da misericórdia e da paz.
O Hino da nossa paróquia diz que somos uma Igreja em saída. Que esta Quaresma sirva para, de porto em porto, semana a semana, sairmos ao encontro do mundo.