Era uma vez um homem muito rico. Tinha tudo quanto queria e a única coisa que não conseguir ter era tempo. Acumulara uma fortuna ao longo de uma vida dura de trabalho e só não conseguira ter família nem amigos. Nada nem ninguém lhe interessava se não contribuísse para fazer mais e mais riqueza e, por isso, considerava uma perda de tempo a amizade e o amor.
Um dia, ficou gravemente doente e, como tinha muito dinheiro, recorreu aos melhores médicos do país. Ninguém conseguia curá-lo e nunca se sentira tão só nem tão pobre. Desesperado e já a pensar no pouco tempo que lhe restava de vida, foi dar um passeio pelo campo. Qual não foi o seu espanto quando um velhinho se aproximou e, sem dizer nada, sorriu, colocou-lhe na mão um caracol e foi-se embora. Intrigado, o homem olhou para o pequeno molusco, pousou-o no muro do caminho e pôs-se a ver o que fazia.
A verdade é que a sua vida fora sempre marcada pela velocidade e pelo stresse e agora era obrigado a parar e a contemplar um caracol que, de maneira vagarosa, mas determinada, se deslocava sabe-se lá para onde.
Aquilo mexeu com o homem e, com lágrimas nos olhos, sentou-se a pensar no tempo que desperdiçara ao longo de toda a sua existência com as coisas que o enriqueceram por fora, mas que o afastaram das pessoas e o empobreceram por dentro.
E lembrou-se, com carinho e saudade, dos pais quando lhe diziam que a maior parte do tempo das pessoas se passava infelizmente a passar o tempo, que com tempo e perseverança tudo se alcançava, que era preciso dar tempo ao tempo e nada se fazia sem tempo, que o tempo que se perdia não se tornava a achar mais, que a calma e o tempo faziam mais do que a força e a raiva, que o tempo trazia e o tempo levava, que o tempo encobria e descobria tudo, que o tempo tudo levava e tudo curava, que o tempo era o verdadeiro mestre e que o tempo estava nas mãos de Deus.
A verdade é que o caracol como que convidou o homem nos dias seguintes a ver e viver a vida de maneira completamente diferente. O homem, que tinha fama de egoísta e avarento, passou a partilhar tudo quanto tinha com as pessoas que de si se abeiravam e, inexplicavelmente, a sua saúde foi-se restabelecendo aos poucos.
Um dia, o homem estava a ver o pôr do sol no alto da montanha que se erguia graciosamente junto à aldeia onde vivia e, de forma misteriosa e inesperada, viu aparecer alguém. Era o ancião que lhe tinha oferecido o caracol. A visita sentou-se ao lado do homem a contemplar o sol que se escondia no horizonte e disse:
– As pessoas comuns pensam apenas na maneira de passar o tempo, mas as pessoas inteligentes tentam usar positivamente o tempo… Quem julga as pessoas não tem tempo para amá-las e aprender sem pensar é tempo perdido… O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos, coisas e pessoas extraordinárias… O ontem já passou, o amanhã ainda não chegou e apenas o hoje é o tempo certo para amar, acreditar, fazer e, essencialmente, viver… Desculpar-se com o argumento de não se ter tempo é o mesmo que dizer que não queremos ajudar. A verdade é que arranjamos sempre tempo para as coisas e as pessoas que são importantes e amamos… Amigo, aprende com o caracol a não ter pressa, mas, simultaneamente, a não perder tempo.
O homem ficou sem palavras e, diante da serenidade, paciência e sabedoria do ancião, perguntou-lhe quem era ele. Então, ele respondeu:
– Como a areia ou a água, escorro por entre os dedos das tuas mãos e, como as aves do céu, consigo voar. Eu sou o Tempo e a minha mãe chama-se Eternidade!
Desceram juntos a montanha e, depois de um abraço vigoroso, despediram-se. A vida do homem mudou para sempre. Encontrou finalmente o caminho para a felicidade e todas as vezes que encontrava um caracol, lembrava-se do ancião, sorria e perguntava-se a si mesmo se estava a aproveitar bem o tempo.
Fonte | IMISSIO (Paulo Costa)