Sabes o que te faz sofrer? Sabes por que razão isso te magoa? Sabes que é possível dar sentido a uma dor?
Há quem tenha muitas dores e não as saiba identificar, talvez porque isso implicaria olhá-las nos olhos ou talvez porque às vezes as dores juntam-se e formam novas formas de dor às quais é difícil reconhecer ou dar nome.
Uma dor que se esconde de nós ou da qual nós nos tentamos esconder acaba por doer ainda mais. A solidão é um fermento potente de dores. Pode engrandecê-las até a um ponto próximo do insuportável.
Seria bom que vivêssemos num mundo onde todos nós tivéssemos com quem falar sobre aquilo que nos faz sofrer, sendo também, cada um de nós, capaz de escutar, e assim aliviar, as dores do próximo.
Mas hoje reina a lógica de uma estranha verdade: como só é considerado bom partilhar as partes boas da existência, as redes sociais enchem-se de realidades que, não sendo falsas, são apenas metade da verdade, fazendo com que quem sofre julgue que as suas dores são as únicas que conhece… e, portanto, que se deve isolar ainda mais, a fim de não estragar a felicidade dos outros.
Todos sofremos, mais ainda porque o escondemos até de nós mesmos, e como ninguém pode mudar o que não aceita, fica na mesma ou piora.
Se as dores morrem ou apenas adormecem, para algum dia acordarem de novo, é um mistério.
Amar implica sofrer. As maiores dores têm, quase sempre, uma estreita relação com o que cada um de nós tem de mais nobre no seu coração. Se alguém não quiser sofrer, então não pode amar. Haverá algo de bom que não tenha sido criado sem dor?
Quem és tu? Quais são as tuas dores? Só te conheces depois de teres passado pelos vales do sofrimento.
As dores são lições sem palavras, para quem as quer aprender. Mestres que escavam em nós, tornando-nos cada vez mais profundos. E a morada das nossas grandes dores é sempre no mais fundo de nós, sendo que aquilo que nos pode curar e salvar habita por baixo desse chão.
Fonte: Imissio (José Luis Nunes Martins)