Conto: «A ilha onde morava a honra»

Era uma vez um homem cuja maldade, desonestidade e falta de seriedade eram conhecidas em toda a cidade. Como se tornara muito rico, fruto do engano, mentira e abuso da inocência das pessoas, ninguém gostava dele nem queria ser seu amigo e isso não o deixava indiferente pois a consciência pesava-lhe.

Como tinha tudo, mas não tinha ninguém e como se sentia tão pobre que a única coisa que possuía era dinheiro, decidiu fazer uma viagem no seu veleiro para pensar na sua vida.  Viajou durante várias semanas de um ao outro mar e atracou em inúmeros portos de todo o mundo. Um dia formou-se uma violenta tempestade e o veleiro naufragou. O homem andou vários dias no mar à deriva agarrado a uma boia e, já a desfalecer, foi encontrado por um pescador que o levou na sua canoa para a ilha onde vivia. 

Era uma pequena e bela ilha cheia de palmeiras, onde apenas havia uma aldeia e as pessoas viviam em simples casas de madeira. Quando o homem se recompôs, quis recompensar a bondade e hospitalidade daquela gente e perguntou quanto devia pagar e ficou surpreendido quando lhe responderam que nada lhes devia e que apenas tinham feito o seu dever. Então o pescador que o salvara disse-lhe:

– Somos pobres, mas somos pessoas felizes e honradas e o dinheiro não é tudo na vida. O mundo precisa de pessoas que não se compram nem se vendem e fazem o bem de forma gratuita e desinteressada. A maneira mais segura e o caminho mais nobre para se viver honradamente passa por sermos por dentro o que parecemos ser por fora e o maior tesouro que os pais podem e devem deixar como herança aos filhos é a integridade. A dignidade e a honra são a verdadeira armadura das pessoas idóneas e apenas levaremos deste mundo o caráter, a lembrança e a honra.

Durante as duas semanas seguintes, o homem deu-se conta das potencialidades económicas na ilha e questionou o pescador que o livrara da morte certa sobre a possibilidade de comprar aquele pedaço de terra, prometendo recompensar todas as famílias com uma casa nova e infraestruturas turísticas. Assim, o progresso e a modernidade chegariam ali e todos poderiam viver melhor. O pescador disse-lhe: 

– Nem pensar. Recebemos esta terra como herança dos nossos antepassados e eles só nos pediram que honrássemos os seus valores, costumes e tradições. Nada nem ninguém mudará a nossa maneira de ser e estar na vida. A honra é como uma pedra preciosa que, se tiver um pequeno defeito, fica com um preço muito reduzido, ou como a neve que, uma vez perdida a sua brancura, nunca mais ela é recuperada. A honra nunca existe pela metade, pois inteira é forte, mas manchada está morta. Nenhuma fortuna conseguirá comprar a nossa honestidade, honra e respeito, pois elas são a maior riqueza que podemos possuir.

O homem estava espantado com os princípios daquelas pessoas que, no íntimo da sua alma, eram genuínas, verdadeiras e honestas e cuja consciência era pura, reta e justa. A verdade é que por ali jamais ouvira falar de roubos, mentiras ou incumprimentos.

Passados uns dias, o homem pediu ajuda para regressar ao seu país, visto ter perdido tudo quanto trazia no veleiro que jazia algures no oceano. Apesar de serem pobres, os ilhéus disseram que iam ajudá-lo a voltar ao seu lar e, volvida uma semana, já tinham angariado o dinheiro necessário para os bilhetes de barco e avião. O homem agradeceu tudo quanto ali aprendera e lhe ajudara a pensar nos seus valores. Disse que nunca encontrara em toda a sua vida pessoas tão boas e honradas e que haveria de arranjar maneira de as recompensar. Então, o amigo pescador tomou a palavra e disse-lhe:

– Não fizemos nada de especial. Somos mesmo assim e não sabemos ser de outra maneira. Podemos perder muitas coisas na vida, mas enquanto preservarmos a nossa honra e dignidade, continuaremos inteiros, íntegros e dignos dos nossos avós. Acreditamos nos valores da confiança, do respeito e do altruísmo e sentimos que só a amizade e o amor nos podem fazer felizes. Agora, aqui na nossa ilha, tem uma casa e uma família e isso é uma alegria e uma honra para nós. Até sempre!

Fonte: Imissio (Paulo Costa)