Sabedoria Popular: «Diz-se que o dinheiro…»

É costume dizer-se que o dinheiro é aquilo com que se compram os melões, mas ele não cai do céu, não nasce nas árvores, voa e assim como veio assim vai. Diz-se, ainda, que o dinheiro é bom de gastar e mau de ganhar, a única coisa fácil sobre dinheiro é perdê-lo, dinheiro e saúde só têm valor depois que se perde e o dinheiro é como o tempo: não o perdendo, chegará.

A experiência diz-nos que não há mal tão lastimeiro como não ter dinheiro, mas que dinheiro na mão é perdição, bolsa rota dinheiro à solta, o dinheiro é um bom escravo e um mau senhor, com dinheiro à vista a gente é sempre benquista, quem não tem dinheiro na bolsa não tem mel na boca e o dinheiro atrai dinheiro.

Também nos damos conta de que o dinheiro abre todas as portas, enquanto há dinheiro há amigos, a quem tem dinheiro não lhe falta companheiro, mais abranda o dinheiro que palavras de cavaleiro, o dinheiro cala a verdade, não deita cheiro nem conhece dono, o dinheiro compra pão, não compra gratidão.

A sabedoria popular diz-nos que amigos, amigos, negócios à parte, o dinheiro fala todas as línguas, com dinheiro tudo se arranja, o dinheiro chama dinheiro, é remédio e bom servidor.

Por outro lado, a vida ensinou-nos que dinheiro adiantado, malparado, dinheiro emprestado parte rindo e volta chorando, quem empresta dinheiro perde o amigo e o dinheiro, dinheiro parado não dá juros, guerra sem dinheiro é impossível, comprar barato é perder dinheiro e palavras não custam dinheiro.

A verdade é que dinheiro suado é dinheiro abençoado, grão a grão enche a galinha o papo, moeda poupada é moeda ganha, para viver bem gastar menos do que tem, tempo é dinheiro, no poupar é que está o ganho, quem compra o que não pode vende o que não quer e quem não tem dinheiro não tem vícios.

Há que ter em conta, ainda, que quem não arrisca não petisca e mais vale um pássaro na mão do que dois a voar, bem como ter consciência de que não se deve gastar hoje o que pode fazer falta amanhã, não se deve pôr os ovos todos no mesmo cesto, assim como há que decidir apertar o cinto e abrir ou apertar os cordões à bolsa.

De qualquer forma, há que reconhecer que a gente ganha dinheiro mas o dinheiro não faz gente, o carácter verdadeiro não se avilta por dinheiro, a glória é de quem a ganha e o dinheiro de quem o agarra, o dinheiro é um meio e não um fim, mais vale a saúde que o dinheiro e vão-se os anéis e ficam os dedos.

Fonte: Imissio