Era uma vez uma rapariga que estava a toda a hora a lamentar-se de não ter liberdade nenhuma. Sentia-se constantemente oprimida, irritada e aborrecida com as regras dos pais, os regulamentos da escola, as normas das organizações e as leis da sociedade. Queria ser livre como um passarinho, não se sentir escrava de nada nem de ninguém e ser feliz.
Então, decidiu pegar numa mochila e ir à procura da liberdade para se sentir melhor. Viajou por todo o mundo, mas por todo o lado encontrava restrições, proibições, limites e condicionamentos e, para seu desconsolo, cada vez se sentia menos livre.
Passados uns quantos meses, ouviu falar de uma ilha que era habitada por poucas pessoas e onde não havia regras e foi para lá, convencida de que talvez fosse o paraíso que sempre sonhara. Para seu espanto, as pessoas da ilha não sorriam nem falavam umas com as outras, mas ao encontrar um velho homem a olhar serenamente para o mar disse-lhe que ele era muito feliz por ser livre numa ilha sem leis. Ele respondeu:
– Olha, estive muitos anos numa prisão por me ter insurgido contra o governo ditatorial do meu país e por ter lutado pela democracia e liberdade do meu povo. Mas, a verdadeira liberdade é uma realidade puramente interior e, por isso, devemos aprender a sentir-nos livres até se estivermos numa prisão. A prisão não são as grades nem a liberdade é a rua, já que existem pessoas encarceradas na rua e pessoas livres na prisão. A liberdade é uma questão de consciência. As grades nunca vão prender o nosso pensamento. Quando a mente se liberta, abrem-se os grilhões que aprisionam o corpo. Todos nascemos livres e depois por toda a parte vivemos acorrentados. Somos escravos pelos nossos vícios e livres pelos nossos remorsos. Somos livres para fazer as nossas escolhas, mas seremos sempre prisioneiros das suas consequências. Na verdade, é livre quem deixou de ser escravo de si mesmo.
A jovem estava estupefacta com a sabedoria daquele homem, que, apesar de ter estado na prisão, sempre se sentira livre e isso exigia uma maturidade extraordinária. Depois, ela contou-lhe toda a sua angústia porque não se sentia livre nem feliz e detestava ter de obedecer a regras por tudo e mais alguma coisa. O homem respondeu-lhe:
– Um dos dons mais maravilhosos que Deus nos deu foi a liberdade. Não somos marionetas nas suas mãos nem robôs programados para fazermos apenas o que Ele quer. Mas ser-se livre não é fazermos aquilo que queremos, mas querer-se aquilo que se pode e realizar o que deve ser feito. A liberdade não é a ausência de limitações, mas a consciência das barreiras que fazem parte da vida, assumindo e entendendo os limites daquilo que nos torna mais humanos. A liberdade implica responsabilidade e é por isso que tanta gente tem medo dela. Ser livre não é fazer uma escolha qualquer, pois isso é libertinagem. Ser livre é a possibilidade de fazer a melhor escolha. Só devemos ficar presos daquilo que nos liberta interiormente. A pessoa livre é dona da sua vontade e escrava apenas da sua consciência. Somos livres enquanto pudermos pensar, pois a liberdade é o oxigênio da alma.
A rapariga não sabia o que pensar nem o que dizer diante das palavras profundas do homem, mas rapidamente percebeu que estava profundamente equivocada sobre o que era a felicidade e a liberdade. Reclamara toda a vida por tudo e por nada, fora egoísta e não percebera que a vida em sociedade necessita de regras de convivência.
Agradeceu os ensinamentos do homem da ilha que, afinal, lhe mostrara o que era a verdadeira liberdade e decidiu voltar a casa depois de ter percebido que as pessoas que ali viviam não eram felizes porque não queriam viver umas com as outras.
A jovem tinha feito a descoberta da sua vida e, desde aquele dia, empenhou-se por ser uma corajosa combatente pela liberdade no mundo inteiro e uma defensora audaciosa da dignidade humana. Entendeu que a liberdade não era um fim em si mesmo, mas uma consequência da busca da verdade e do bem e que só era digno da liberdade, como da vida, quem se empenhava em conquistá-la. Era livre, finalmente.
Fonte | IMISSIO (Paulo Costa)