Era uma vez uma senhora que se chamava Maria e que vivia com o filho na sua pequena e modesta casa nos arrabaldes da cidade. O marido dedicara toda a sua vida à arte da marcenaria mas, desde que morrera, a sua carpintaria permanecia encerrada e a alegria como que se desvanecera por aquelas bandas. Apesar do rapaz ter aprendido algumas coisas do ofício com o pai, a verdade é que ele tinha outros planos para a sua vida.
Maria gostava de passar o maior tempo possível com o seu filho e dedicava-se com brio e aprumo às lides da casa. Gostavam de rezar juntos, falar de tudo e mais alguma coisa e passear pelos vales e montanhas da região.
Um dia passeavam nas margens de um lago que havia nas cercanias e chamou-lhe a atenção um gatinho que miava em cima de uma árvore. Era esbranquiçado e com o pelo alongado. Maria ficou logo preocupada e, como lhe pareceu que estava sozinho, com frio e faminto, pediu ao jovem que tentasse ir buscá-lo. Ele não apreciava particularmente os gatos mas, como os desejos da mãe eram como se fossem ordens, imediatamente trepou à árvore para o apanhar.
Depois de o colocar no colo da mãe, o rapaz como que querendo aconselhá-la a não ficar com ele, disse-lhe que os gatos, apesar de serem animais de estimação, continuavam a partilhar todas as características dos felinos selvagens dos quais eram parentes. Referiu que eram fortes, ágeis, com grandes reflexos e sentidos apurados e possuíam instintos de caça mas tinham uma personalidade muito vincada, independente, teimosa e individualista.
Maria sorriu com aquele discurso todo e, enquanto acariciava o gatinho, piscava o olho ao filho e chamava-lhe a atenção para o seu ronronar e para as turrinhas que dava e dizia doce e serenamente que os gatos eram animais muito fofos, amigáveis, afetivos, curiosos, brincalhões e excelentes companheiros.
Como o jovem já não via a mãe tão entusiasmada há tanto tempo, riu-se e condescendeu que levassem o gatinho para casa. Afinal, o gato também era uma criação de Deus e tinha a sua graça. Acreditava que nada acontecia por acaso e, como estava a pensar sair de casa para cumprir um sonho e realizar uma missão a que se sentia impelido, achou que o gatinho até poderia ter chegado na hora certa e ser uma boa companhia para a mãe na sua ausência.
Rapidamente Maria e o bichano se afeiçoaram e acostumaram um ao outro e nele eram evidentes os famosos dois traços: forte personalidade e muita doçura. Adorava a casa, pulava sobre a cama de Maria para lhe dar os bons dias, brincava muito consigo, dormia aos seus pés enquanto orava, ronronava ao seu redor procurando carinho, esfregava-se nas suas pernas para que o acariciasse e acompanhava-a ao rio para lavar a roupa e ao lago para passear.
Paulatinamente, Maria descobriu que podia aprender imenso com o seu gatinho para a sua vida pessoal e para a sua relação com Deus. Percebeu que os gatos eram seres autênticos, sinceros e honestos e jamais escondiam o que eram para agradar às pessoas. Compreendeu que não eram submissos nem influenciáveis pois decidiam o que queriam e escolhiam o que era melhor para eles. Descobriu que eram corajosos, audazes, destemidos, inteligentes, limpos, exigentes, persistentes e que lutavam pelos seus objetivos, jamais desistiam e não perdiam tempo com coisas sem importância. Deu-se conta que eram dóceis, amorosos, leais e davam-se totalmente às pessoas que conquistavam a sua confiança.
Maria sempre que ia ao encontro do filho, por onde quer que andasse, ficava cheia de saudades do gato. O jovem também se afeiçoara ao pequeno felino pois sentia que ele fazia bem à mãe. Perguntava-lhe sempre por ele e, quando a visitava, levava-lhe sempre alguma guloseima.
O gatinho gostava muito de ficar em casa mas foi sempre visto a acompanhar Maria por ocasião da morte prematura do filho e era comovente a forma como mimava a dona no seu colo. O pequeno felino branco do lago esteve com Maria até ao fim da sua vida e quando ela partiu, todos se admiravam e emocionavam ao vê-lo permanentemente a olhar para o céu.
Fonte: IMISSIO