Em muitos desafios da nossa vida julgamo-nos indignos de alcançar o sucesso. Talvez por causa do que sabemos sobre nós mesmos, tendo em conta as nossas faltas e falhas, em muito pouco semelhantes aos méritos aparentes de quem nos rodeia.
Chegamos a julgar justo que aquilo que ambicionamos para nós, acabe por ficar para os outros, porque nos parecem, de facto, muito melhores do que nós.
A verdade é que cada um de nós se conhece a partir de dentro, mas aos outros apenas a partir de fora. Estamos bem conscientes de muitos dos nossos defeitos, tristezas, preocupações, desejos e memórias, e muitas destas sensações são experimentadas de forma tão intensa que acabamos por nos avaliar como muito mais vulneráveis e fracos do que o resto das pessoas que conhecemos.
Dos outros apenas sabemos o que fazem e o que nos dizem. O que pode ser, e é, muitas vezes, mais ou menos adulterado para que nos cause boa impressão e que, a partir dela, criemos uma imagem do interior do outro, mais bela do que a realidade.
A solução para este complexo que nos atinge não é mais do que tomarmos os que nos são estranhos, e os próximos, como muito mais semelhantes a nós do que parecem. Todos os que estão à nossa volta, no fundo, não são mais dignos nem mais excelentes do que nós. Por mais que brilhem as suas aparências.
A única indignidade que talvez importe sentir é a de quando nos sentimos amados, uma vez que ela significa que reconhecemos ao outro a decisão gratuita e generosa de ser dom na nossa vida, apesar de tudo.
Fonte: Imissio (José Luís Nunes)