Viver implica resistir a muitas perdas. Começamos com nada e partiremos sem levar coisa alguma. Tomamos quase sempre como justo o bem que nos chega, e como injusta e absurda a perda dos bens que, na verdade, nunca foram nossos.
À medida que os anos passam em silêncio, cresce a necessidade de fazermos amizade com a solidão. Por mais que nos sintamos cansados de nós mesmos, a verdade é que a vida é um caminho no qual andamos quase sempre sozinhos, pelo que ou nos fazemos amigos de nós próprios ou andaremos sempre em má companhia.
Quanto mais velhos estamos, maior é a tendência para nos abrigarmos no passado, porque a verdade é que por mais longo que tenha sido o caminho que já fizemos, a esperança exige que nos inclinemos para o futuro e isso é, por si só, cada vez mais desafiante. Os passos que demos, estão dados e já não nos doem, os que faltam dar, esses sim, parece que já começaram a ferir.
A sabedoria que chega na velhice talvez não seja resultado de muita experiência, mas da distância face aos acontecimentos que permite ver tudo de forma mais clara e evidente. Os conselhos dos mais velhos não são histórias concretas da sua vida, mas sim o que fariam hoje se estivessem no nosso lugar, tendo presentes os seus fracassos e a clareza com que hoje compreendem os seus porquês.
Ao longe vê-se melhor. E os anos levam-nos para um lugar distante e mais alto.
O melhor do que somos revela-se quando a vida nos maltrata. A velhice é um tempo de verdade revelada, pelo que podemos observar de nós mesmos, no que fomos, no que somos e na forma como encaramos a incerteza do amanhã.
É a vontade de amar que dá sentido à vida e a justifica em absoluto.
Cada dia a mais será um dia a menos. Os dias que nos são dados não são mais do que momentos que havemos de perder. Seria bom que todos assumíssemos o fim de cada dia como uma perda irremediável – pior ainda se não o aproveitámos.
Fonte: Imissio (Jose Luis Nunes Martins)