Vivemos com uma vontade enorme de fazer coisas, de experimentar outras, de participar de forma ativa em todas as atividades e de estar presentes em todos os acontecimentos que julgamos ser importantes, portanto, quase todos!
Mais estranho ainda é que o nosso interior seja determinado pelo exterior, quando na verdade devia ser o contrário, as mudanças do mundo começarem a partir de dentro de mim.
Queremos tanto ser protagonistas em tanta coisa que acabamos por improvisar a maior parte do tempo e fazer figuras tristes que se evitariam com facilidade se tivéssemos tido a coragem de parar um pouco e pensar bem no que era o plano e quais eram as probabilidades de sucesso!
Parecemos escravos da ditadura do fazer acontecer. Somos obrigados a produzir e a consumir. Tudo com ritmo acelerado e sem pausas. Eventos muito dinâmicos e sem fim!
Quem decide ficar de fora, ainda que por apenas alguns momentos, é visto como alguém atrasado, mas ameaçador.
Na família, como no meio profissional, dá-se cada vez mais valor a fazer muitas coisas. Quantidade e diversidade, em vez de qualidade e profundidade. Estar ali não basta, é preciso fazer qualquer coisa, como se a simples presença de alguém connosco não pudesse ser motivo de satisfação para nós. O encontro é em si mesmo um enorme bem. Ir ao encontro e estar ali pode ser tudo o que alguém precisa para ser feliz.
Quantas vezes é a perda de alguém querido que nos lembra que devíamos ter usufruído mais da sua simples presença… um silêncio partilhado pode bem ser o mais belo hino ao amor.
A existência é demasiado limitada e valiosa, para que a desperdicemos a fazer muitas coisas sem pensar, sem sonhar, sem estudo nem preparação… de que vale acabar exausto e frustrado por ter gastado forças e tempo de forma inútil?
Mais vale parar, pensar e, depois, se for mesmo importante fazer algo, fazê-lo. Caso contrário, mais vale descansar e dar descanso aos outros.
É tempo de olhar para nós mesmos e aos outros com amor, num silêncio sem pressa.
Fonte: Imissio (José Luís Nunes Martins)