Fátima é fonte para todos os sedentos e referência para a inquietação

O P. José Tolentino Mendonça considera que «Fátima tem sido um abate muros, um derruba fronteiras, é sem dúvida um polo magnético de todos os que procuram, de todos os sedentos, e é um ponto de referência para a inquietação espiritual».

«Não é em vão que tantos, por uma curiosidade, ou por um desejo ainda por trabalhar, ou em estádios embrionários do seu caminho interior, começam por Fátima. E Fátima é um bom lugar para começar», declara o vice-reitor da Universidade Católica em entrevista publicada na última edição da revista “Fátima XXI”.

O primeiro diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura está convicto de que «Fátima, para muitas pessoas em Portugal, é o quilómetro zero da experiência crente, de um processo de conversão», experiência que «tem um valor incalculável»

De repente estamos a caminhar para Fátima e percebemos que não nos encaminhamos apenas para um lugar geográfico: Fátima encaminha-nos para um lugar espiritual. Vira o nosso coração, silenciosamente, progressivamente, para o mistério de Deus», assinala.

O vasto espaço desenhado no santuário, no interior da triangulação entre a capelinha das Aparições e as duas basílicas, é uma «metáfora da experiência crente, é uma inspiração que Fátima traz para o catolicismo português», porque «a fé não é um quarto fechado, é uma esplanada aberta», o que «permite que seja um espaço de muitos trânsitos, necessariamente diferenciados».


«Pode dizer-se que muitos peregrinos de Fátima estão num estádio de mística selvagem, por trabalhar. Sem dúvida que há todo um caminho de esclarecimento, aprofundamento, integração. Mas o primeiro contacto, e aquela abertura, aquela largueza, aquele mar aberto, aquela capacidade de acolher todos sem distinção que sentimos em Fátima, acaba por ser em si mesmo uma página do Evangelho. E por isso não deixa ninguém indiferente, crente ou não crente», sustenta.

O poeta e biblista observa que Fátima tem sido lugar de procura «também por ser um lugar de silêncio»: «Aquela esplanada vazia, com aquele centro, aquela luz acesa, que é a Imagem e a Capelinha, são uma escola do silêncio, num mundo onde ele é um bem muito escasso, proporcionando muitas vezes uma experiência que nos falta absolutamente».

No centenário das aparições, um «desafio para Fátima» é «tornar-se, cada vez mais, um espaço capaz de falar uma gramática com uma legibilidade ampla para aqueles que estão perto e aqueles que estão longe, para aqueles que são cristãos e para aqueles que apenas procuram, para aqueles que em Fátima fazem uma experiência religiosa e para aqueles que ainda estão noutros pontos de partida, nomeadamente nesse campo aberto que é o mundo da cultura».

«Fátima é chamada a aprofundar e diversificar o diálogo com a cultura. Fátima será o altar do mundo, se for ao mesmo tempo o grande átrio dos gentios onde esse encontro entre fé e cultura descobre formas de encontro e de celebração», acentua.