Há dias em que precisamos de mar.
De acertar o nosso coração descompassado
Ao ritmo natural do vai e vem das ondas,
Que acariciam a areia e nos lavam os pés com a mesma humildade com que Jesus lavou os dos seus discípulos (cf. Jo 13, 3-13).
Há dias em que precisamos de mar.
De navegarmos confiantes na crista das ondas dos nossos medos,
Libertando-nos das correntes que teimam em arrastar-nos para longe
Do porto onde Jesus espera pacientemente por nós.
Há dias em que precisamos de mar.
De nos esvaziarmos do orgulho,
Que nos cega e nos tolda o discernimento,
Desviando-nos do olhar misericordioso de Deus,
O único olhar capaz de nos voltar a encher de esperança
E de nos dar a coragem de recomeçar.
Há dias em que precisamos de mar.
De saborearmos o sal que retempera a vida,
Tantas vezes insossa de momentos mal amados, de indiferença entorpecida, de palavras caladas,
Que deveriam ecoar aos quatro cantos do mundo
A boa nova que Jesus nos veio dar a conhecer.
Há dias em que precisamos de mar.
De mergulhar na profundidade de nós próprios para calar os ruídos que nos impedem de ouvir o essencial, sem pressa nem demoras.
Palavras que nos podem curar as feridas mais profundas e dolorosas Que trazemos escondidas há já tanto tempo
Que nos convencemos que já conseguimos disfarçá-las à vista de todos
Com sorrisos que dizem que está tudo bem, mas com olhos que espelham la tristeza de quem não está.
Há dias que precisamos do mar.
Da nos envolvermos na transparência
Que nada esconde para nos vermos, Como se fosse a primeira vez,
Ainda despidos de preconceitos,
Como a pureza da nudez de Adão e Eva,
Antes de se quererem igualar a Deus, tentados pela serpente,
Comendo o fruto da única árvore proibida (cf Gn 2, 25 a 3, 1-13).
Há dias em que precisamos de mar.
De nos perdermos na linha do horizonte de possibilidades infinitas,
Naquele lugar o divino toca o humano e o humano pode vislumbrar o mistério trinitário a conjugar todas as suas criaturas com Amor.
Se me perguntasses hoje, quem tu és para mim, Senhor,
Responder-te-ia que és o mar onde quero para sempre habitar,
Na certeza que quando chegar a minha hora de naufragar,
Estarás ao meu lado, estenderás para mim as tuas mãos e me dirás:
“Não tenhas medo, estarei contigo até o fim dos tempos” (cf Mt, 28, 19).
Fonte | IMISSIO