Era uma vez dois homens que eram os maiores amigos um do outro desde tenra idade. Como viviam na mesma aldeia perto do mar, dedicavam-se à pesca e partilhavam o mesmo barco. O mais velho era casado e tinha três filhos e o mais novo nunca se casara, pois tivera de ficar a cuidar dos pais velhos e doentes, já que não tinha irmãos. A vida tinha sido a melhor escola para os dois e prezavam muito a amizade.
Um dia, após uma pescaria muito generosa, o amigo mais novo caiu na tentação de dividir de forma desonesta o peixe, ficando com muito mais peixe do que o amigo. O mais velho depois de ser ter dado conta do sucedido, limitou-se a escrever na areia junto ao barco que o seu melhor amigo o havia enganado. No dia seguinte, devido à ondulação forte, o barco virou e o homem mais velho caiu ao mar. Vendo-se aflito, gritou por socorro e o amigo mais novo atirou-se corajosamente à água e salvou-o. Após regressarem a casa, o amigo mais velho escreveu com tinta no barco que o seu melhor amigo lhe tinha salvo a vida. Como aquilo intrigou o amigo mais novo, o mais velho disse:
– Amigo, escrevi na areia que me tinhas magoado para que a água do meu perdão e do meu esquecimento apagassem o que me fizeste e escrevi a tinta no nosso barco que me tinhas salvo porque as coisas bonitas e profundas devem ficar para sempre gravadas na memória e no coração e tu salvaste-me a vida.
O amigo mais novo abraçou o mais velho e chorou amargamente. Então, o mais velho, convidando-o a caminhar consigo pela praia, disse com ternura:
– Amigo, dos amores humanos, o menos egoísta, o mais puro e desinteressado é a amizade. A amizade é uma alma com dois corpos. Um irmão pode não ser um amigo, mas um amigo será sempre um irmão. Os amigos são os familiares que nós escolhemos para caminhar connosco a nossa vida. Na verdade, a amizade desenvolve a felicidade e reduz o sofrimento, duplicando as nossas alegrias e dividindo as nossas dores e tristezas. Não há solidão mais triste do que a do ser humano sem amigos. A falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto e no meio de tanta gente árida e fria, temos sede de encontrar um amigo como se fosse um oásis. Todas as grandezas do mundo não valem um bom amigo. Sou feliz por sermos amigos.
Uns dias mais tarde, no final de mais um dia de pesca, estavam a apanhar o peixe das redes e deram-se conta de que estava ali uma pequena caixa de madeira. Depressa a abriram e para seu espanto, estava cheia de ouro. Como a descoberta fora dos dois, decidiram vender o ouro e, como em muitas outras ocasiões, partilharam o dinheiro a meias. Uma semana depois, o amigo mais velho achou que o dinheiro todo seria mais útil ao amigo mais novo já que não tinha família e tinha menos posses. Ao mesmo tempo, o mais novo pensou que o dinheiro daria mais jeito ao amigo mais velho pois tinha uma família grande para sustentar e os tempos eram difíceis.
Determinados a dar toda a respetiva parte do dinheiro do ouro ao outro, encontraram-se casualmente a meio do caminho e, após cada um ter dito o que tinha decidido fazer, abraçaram-se comovidos e optaram por ficar com quanto lhes tinha calhado a cada um e oferecer algum às pessoas mais carenciadas da aldeia. O amigo mais novo disse:
– Um amigo pode fazer-se rapidamente, mas a amizade é um fruto que amadurece lentamente. Para ser amigo de alguém não é obrigatório estar fisicamente ao seu lado, mas, sim, estar do lado de dentro, pois só se vê aquilo que é essencial com o coração. O amigo é aquele que sabe tudo a nosso respeito e, mesmo assim, continua a gostar de nós. O amigo é aquele diante do qual podemos ser verdadeiramente nós próprios, sem máscaras ou aparências e pensar em voz alta. O amigo é aquele que pensa connosco e não aquele que pensa como nós. Sou feliz por ter-te como amigo!
Os dois amigos abraçaram-se afetuosamente pois sentiam que tinham o mais valioso dos tesouros: a amizade. A notícia do que acontecera com os dois amigos espalhou-se rapidamente por toda a região e durante várias gerações se contou a sua história.
Fonte: iMissio (Paulo Costa)