Era uma vez um homem que vivia numa casinha junto a um rio. Desde que a população da aldeia onde vivia o acusara de ter agredido uma criança e ter cumprido pena na prisão, preferira viver fora da povoação porque se sentia vítima de uma enorme injustiça. Apesar de negar tudo, tinham-no visto com um pau na mão junto a uma menina pequenina que chorava muito e ambos estavam feridos e cheios de sangue.
Apesar do ódio que todos nutriam por ele, já que ninguém acreditava nas suas razões, ele fora capaz de desculpar as pessoas da aldeia no dia em que foi libertado e um velho guarda que conhecera a sua história e se tornara seu amigo lhe dissera que, enquanto não perdoasse aquela gente, ele continuaria prisioneiro irremediavelmente.
Um dia, um jovem da aldeia encontrou-o a pescar na margem do rio e, como ele o cumprimentou e lhe sorriu, perguntou-lhe porque é que não sentia raiva pois ouvira dizer que nunca admitira aquilo de que era acusado. O homem respondeu:
– Amigo, aquele que é fraco não sabe perdoar pois o perdão é um dos atributos daqueles que são fortes. A mais importante das vitórias é o perdão. A raiva torna-nos seres pequenos e a vingança faz-nos iguais aos nossos adversários, enquanto o perdão ajuda-nos a crescer para além do nós mesmos e torna-nos superiores a eles. O orgulho e a vingança podem fazer-nos sentir bem por uns instantes, mas o perdão faz-nos felizes para sempre. Aqueles que não perdoarmos estarão permanentemente a perturbar-nos a alma e não nos deixarão em paz.
O rapaz ficou perplexo com aquelas palavras e comentou aquela conversa com algumas pessoas da aldeia e a reação das pessoas foi o contrário do que esperara, pois alguns passaram a surpreender o pobre homem, atirando-lhe pedras. Passados uns tempos, o jovem voltou a visitar o homem e à sua pergunta de como se sentia, respondeu que não guardava ressentimento, pois, na verdade, após tantos dias, nem ele, que tinha sido atacado, nem os aldeões que o tinha agredido, eram realmente as mesmas pessoas, tal como as águas do rio que passavam não eram nunca as mesmas. Depois disse:
– Devemos amar a verdade e sermos capazes de perdoar o erro, já que perdoamos na medida em que conseguimos amar de verdade. Perdoar é próprio de pessoas saudáveis, generosas e corajosas. Mais do que um sentimento, o perdão é uma atitude de vida que nos torna mais dignos, fortes e felizes. Não conseguiremos alcançar a paz sem a justiça, não atingiremos a justiça sem o perdão e não saborearemos a fecundidade do perdão sem amor. Errar é humano, mas também o é perdoar e isso assemelha-nos a Deus pois é uma profunda atitude de amor. Só quem ama realmente é capaz de perdoar a sério, como o faz Deus que é Amor e não se cansa de perdoar.
Depois, o homem chamou o jovem para que visse o que fizera com as pedras todas que lhe tinham atirado. Em vez de as ter devolvido aos agressores, ter lançado às águas ou ter feito um muro para se proteger, decidira construir uma ponte sobre o rio.
Então, o jovem abraçou o homem a chorar e pediu-lhe perdão porque ele vira tudo o que se passara naquele dia e não fora capaz de o defender. E, chamando todas as pessoas da aldeia, confessou que o homem lutara heroicamente contra um lobo que atacara a menina e a salvara de uma morte certa e disse-lhes que ele construíra uma ponte com as pedras que lhe tinham atirado.
Todos ficaram sem saber o que pensar ou fazer. Pediram perdão ao homem, agradeceram-lhe a ponte que tanta falta sempre fizera e convenceram-no a voltar a viver na aldeia. Então, ele, agradeceu as palavras, aceitou o convite e disse:
– Muito obrigado a todos. O perdão não altera o passado, mas pode engrandecer e dar dignidade ao futuro. Perdoar quem nos magoou ou ofendeu enriquece o nosso espírito e é a forma mais sublime de maturidade, enquanto pedir perdão alivia a nossa consciência e é o modo mais nobre de voltar a caminhar com serenidade. A importância que as pessoas têm na nossa vida é maior que os erros que elas cometem. Por isso, construí a ‘Ponte das Pedras do Perdão’ como sinal de amizade e reconciliação.
Fonte: Imissio (Paulo Costa)