Era uma vez um rei. Era o monarca mais rico, poderoso e culto de todos os reinos. No entanto, nunca ninguém lhe vira um sorriso nem sentira afeto nas suas palavras e parecia sempre muito triste, angustiado e maldisposto.
Como o seu estado piorava de dia para dia, a rainha pediu ajuda aos maiores sábios do reino dos vários ramos das ciências e de outras especialidades, mas ninguém conseguia encontrar solução para o drama do rei. Contudo, um curandeiro disse à monarca que tinha ouvido falar de uma velha senhora que vivia numa aldeia das montanhas que dizia ter um cofre com o segredo da felicidade.
A rainha ficou entusiasmada com a notícia e logo organizou uma comitiva para levar o marido à famosa povoação para conhecer a idosa. Para espanto do rei, a velhinha e o seu marido viviam numa simples e modesta casinha e estavam a trabalhar no quintal. Quando a rainha perguntou como era possível terem o cofre da felicidade e viverem naquelas condições, a senhora disse:
– Sua alteza, o que eu tenho e me faz feliz é o que pode ver. A minha riqueza são os meus filhos e o meu marido e os laços que nos unem. A felicidade não depende do dinheiro que temos, dos bens que amealhamos ou daquilo que nos falta, mas da forma como pensamos, sentimos e olhamos a vida e os outros e da maneira como usufruímos o que temos. Se não tivermos o cofre da felicidade dentro de nós mesmos, em vão o procuraremos fora. A verdadeira felicidade está mais próxima do que possamos imaginar, pois ela gosta de viver na nossa própria casa, por entre as coisas domésticas da família. O mais importante é a decisão de querer ser feliz, dando-se sem medida, pois não há propriamente um trilho certo para se ser feliz, já que a própria felicidade é o único caminho certo.
Os monarcas não perceberam muito bem aquelas palavras e voltaram a insistir se era verdade que tinha o tal cofre da felicidade, pois parecia que eles passavam por dificuldades e não tinham empregados para os ajudar. Então a velhinha disse:
– Sua majestade, o poder sobre os outros é enganador. Eu sou apenas dona de mim mesmo e esse é o meu maior poder e riqueza pois sinto-me livre e não sou escrava de nada nem de ninguém. A felicidade não é sinónimo de ausência de problemas e dificuldades, mas capacidade de enfrentar com determinação e otimismo as adversidades, desatando os nós do quotidiano. As pessoas felizes não estão obsessivamente à procura da felicidade, mas, serenamente, vivem as coisas simples da vida, recordando o ontem com gratidão, saboreando o hoje com entusiasmo e encarando o amanhã com esperança. Há pessoas que perdem as pequenas alegrias do quotidiano porque decidem esperar pela felicidade como algo espetacular e grandioso. A felicidade é composta de momentos felizes e pequenos prazeres.
O rei e a rainha estavam admirados com a sabedoria da idosa e perguntaram-lhe se tinha estudado ou se conhecia os grandes cientistas e filósofos. Ela respondeu:
– O conhecimento que eu e o meu marido temos é aquele que aprendemos com a vida, a experiência do dia-a-dia e a nossa reflexão. Apenas nos preocupamos em sermos pessoas melhores e em deixarmos um mundo melhor. A nossa felicidade é proporcional ao nosso empenho em fazermos os outros felizes. Ninguém deveria sair da nossa beira sem se sentir um pouco mais animado e feliz. Só seremos autenticamente felizes se repartirmos e partilharmos gratuitamente o que somos e temos, pois a felicidade multiplica-se em nós ao ser dividida. Somos felizes porque descobrimos que a vida tem sentido e que vale a pena viver como se fossemos todos da mesma família. Este é que é o tal cofre que temos dentro de nós e que guarda o segredo da felicidade.
O rei percebeu, finalmente, o sentido das palavras da idosa e a riqueza que conservava no seu coração e que a faziam verdadeiramente feliz. Surpreendentemente, ou talvez não, voltou a sorrir. Todo o reino se alegrou com a cura do monarca pois a descoberta do cofre do segredo da felicidade, tornou-o uma pessoa alegre, simpática e bondosa.
Fonte: Imissio