As leituras da noite santa da vigília Pascal levam-nos numa viagem pela história da salvação.
A primeira leitura, do livro do Génesis, conta-nos a origem do universo, da vida e do Homem.
A segunda leitura, do livro do Êxodo, relata-nos a libertação dos hebreus da escravidão do Egito, por iniciativa e por intervenção de Deus, e, graças a especial proteção divina, atravessam o Mar Vermelho. A ação libertadora de Deus os faz passar da morte à vida, através desse «batismo» nas águas do mar, lhes dá uma consciência de povo e lhes abre o caminho para a terra prometida.
Esta primeira Páscoa, que foi uma nova criação, é um acontecimento salvífico que anuncia o Batismo, sacramento da nossa libertação e da nossa «passagem» do pecado à vida da graça.
Na terceira leitura, o profeta Ezequiel avisa que com os seus pecados de idolatria e de homicídio, o Povo de Deus profanara o Seu nome, merecendo, por isso, o castigo de ser disperso entre povos pagãos. Contudo, nem mesmo na provação ele soube voltar-se para o Senhor e glorificar o Seu nome. Pelo contrário, a sua vida e o seu destino levavam os pagãos a dizer:
«O Deus de Israel não será um Deus impotente para salvar Seu Povo?» Por isso, sem que o Povo o merecesse, Deus reconduzi-lo-á à sua terra, de novo tornada fértil, recriando-o, mediante uma transformação interior tão profunda que os mesmos corações de pedra se tornarão corações de carne.
Será, porém, na nova economia, que, com a Páscoa de Cristo, se realizará plenamente essa transformação. Com o perdão do pecado e a efusão do Espírito Santo, o homem receberá um coração filial, podendo repetir, cada dia: «Pai nosso» (Mt. 6, 9).
Na quarta leitura, o apóstolo S. Paulo escreve aos Romanos dizendo-lhes que a justificação vem de Deus, por meio da fé em Jesus Cristo o Qual, com a Sua Morte, destruiu a escravidão do pecado e da morte, em que o homem vivia, comunicando aos resgatados a própria vida divina. Mas, para que os homens recebam a eficácia da Morte e Ressurreição de Jesus, é necessário que se insiram no Seu Mistério Pascal. Ora o Batismo é o Sacramento que nos une à Morte de Cristo para nos fazer viver com Ele a nova vida, que «não morre mais». Comunicando aos batizados os frutos da Paixão e da Ressurreição o Batismo não é, porém, uma simples aplicação do Mistério Pascal: é a sua realização atual em cada um de nós.
Evangelho de S. Lucas – É impossível ao homem passar da morte à vida e, por isso é-lhe difícil acreditar que alguém possa ter feito essa passagem. No coração de quem pôde testemunhar a Morte e a Ressurreição de Jesus, como as santas mulheres, que O tinham acompanhado em vida, ficou a lembrança e a saudade d’Aquele que elas tinham visto partir. Por isso, elas correram ao túmulo logo «ao romper da aurora», para continuarem o embalsamamento do corpo de Jesus interrompido pelo repouso do dia sagrado de Sábado. Mas, quando pensavam visitar o túmulo do Morto, os mensageiros celestes anunciam-lhes o Vivo, que já não pode jazer num túmulo. E logo o que poderia parecer um desvario começou a ser causa de «admiração», porque se trata, de facto, da maior das «maravilhas» de Deus.
Todo este caminho nos leva a entender que Deus está presente e vai-se revelando na história do povo de Deus, mas de um modo especial no Seu Filho Jesus Cristo.