Era uma vez uma família que tinha três filhos. Os dois rapazes e a menina tinham idades bem diferentes e, apesar de serem muito amigos, discutiam por tudo e por nada. A última conversa acesa acontecera quando o gato subira para cima de uma árvore do jardim e não conseguia descer. A menina dizia que a árvore era muito alta para ela lá ir acima e que podia cair, o irmão do meio achava que não era assim tão alta e com uma simples cadeira ia lá buscá-lo tranquilamente e o mais velho, ria-se dos dois, pois considerava a árvore baixa e levantando os dois braços, pegou no gatinho com facilidade. Então, a mãe disse-lhes:
– Meninos, não há propriamente verdades absolutas e o que temos em nós são apenas convicções como se fossem pequenos pedaços da verdade. As nossas verdades são opiniões ou perspetivas a partir dos nossos pontos de vista ou ângulos de visão. Não existe nada nem ninguém completamente errado e há muitas verdades que, quando ouvidas pela primeira vez, nos pareceram absurdas. Há quem considere que antigamente se acreditava em todas as mentiras e hoje se duvida de todas as verdades. Por isso, calma nas vossas discussões e muito respeito pelo outro.
Como os irmãos eram teimosos e orgulhosos e continuavam nos dias seguintes a discutir, o pai decidiu perguntar-lhes se a aldeia que estava no alto da montanha e que se conseguia avistar da casa onde viviam, era bonita ou feia. Como o rapaz mais novo tinha lá ido num dia de inverno com muita chuva e frio, achava-a horrível e desagradável. A menina, como tinha visitado o povoado numa manhã primaveril, onde só se viam flores e se ouviam passarinhos, considerava aquele lugar incrivelmente bonito e mágico. O rapaz mais velho, que lá tinha estado num quente dia de verão, achou aquele lugar simpático, mas, simultaneamente, um verdadeiro pesadelo, pois estava tudo seco e não se aguentavam as elevadas temperaturas. Então, a mãe, abraçou-os e disse que ninguém estava a dizer mentira nenhuma e que tudo quanto tinham referido era, mais uma vez, uma parte da verdade. Depois, disse:
– Veem como são as coisas? Vocês olham para a aldeia em função da experiência particular que tiveram com ela e isso faz toda a diferença. Olhem, vivemos num mundo onde é frequente vermos e ouvirmos mentiras disfarçadas de verdades. Deveríamos ser prudentes e cuidadosos com as opiniões que temos e com as afirmações que fazemos, pois o que hoje é visto como verdade, amanhã pode ser considerado mentira. Só consegue viver na mentira quem não está preparado para enfrentar a verdade. Feliz é aquele que procura a verdade como uma atitude existencial e um estilo de vida. É suficiente descobrir uma mentira em alguém para passar a duvidar das suas verdades. Uma mentira basta para pôr em dúvida todas as verdades.
Os irmãos olharam uns para os outros sem grande vontade de reconhecerem que a mãe tinha razão. Passados uns dias, ela vendou-lhes os olhos e perguntou-lhes que animal era aquele que trouxera e estavam a tocar. Como cada um tocou apenas numa parte do bicho, um disse que era uma ovelha porque tinha muito pelo, o outro considerou que era um macaco por causa do rabo cumprido e a menina achou que era um gatinho por causa das orelhas e da boca. Quando todos retiraram as vendas, reconheceram que estavam todos enganados pois o animal era um cão. Então, a mãe disse-lhes:
– Nenhum dos três acertou. Nós erramos muitas vezes e estamos longe da verdade. A busca da verdade é a aventura mais importante da vida e ela pode fazer sofrer, mas não mata ninguém, enquanto a mentira pode agradar, mas, definitivamente, não faz bem. Ser verdadeiro é sempre melhor e mais eficaz a longo prazo do que ser mentiroso com benefícios aparentes e com efeitos a curto ou médio prazo.
Então, a mãe ofereceu-lhes aquele cão que fora adotar a um canil. Os três fizeram uma festa enorme e disseram que tinham aprendido a lição. Prometeram ser mais humildes, pois tinham percebido, finalmente, que os seus pontos de vista eram a vista observada do ponto onde cada um estava e que ninguém era o dono da verdade toda.
Fonte: Imissio