Era uma vez um professor muito inteligente. Dava aulas nas melhores universidades do país e, paulatinamente, foi-se tornando muito famoso e rico. Era um homem imensamente orgulhoso, prepotente e egoísta e tratava com altivez, aspereza e arrogância os colegas, os alunos e até os próprios familiares.
Um dia, ao sair de casa, uma velhinha pediu-lhe uma esmola, mas logo refilou com ela com maus modos e mandou-a ir trabalhar. Apesar de não ter recebido nada, a idosa pediu desculpa por o ter incomodado e, sorrindo, desejou-lhe um bom dia. A atitude da pobre senhora inquietou o professor, que logo lhe perguntou porque reagiu assim à sua sobranceria. Ela, voltou a sorrir e respondeu muito serenamente:
– Caro senhor, a vida ensinou-me que a humildade é a base e o fundamento de todas as virtudes humanas e o sinal da nobreza de qualquer pessoa. A humildade não é a declaração da nossa pequenez, mas o reconhecimento sincero da verdade das nossas forças e das nossas fraquezas. A riqueza depende do dinheiro, a sabedoria está relacionada com o conhecimento, mas a grandeza do ser humano está intimamente ligada à humildade. A humildade é o reconhecimento de que precisamos uns dos outros para existirmos verdadeiramente. A autêntica felicidade vem da humildade de admitirmos que a vida só tem sentido com os outros e que sozinhos não somos quase nada. Eu acredito na humanidade e, por isso, apesar de tudo, sou feliz.
O professor ficou surpreendido com as palavras da velhinha, mas fez questão de lhe dizer que dava aulas no ensino superior e que não recebia lições de ninguém. A velhinha logo lhe disse que quanto mais vazias fossem as carroças mais barulho faziam, que inteligência não era a mesma coisa que sabedoria e que, possivelmente, ele sabia muitas coisas, mas ignorava o nome dos seus empregados. De seguida, disse:
– A humildade é o primeiro degrau para aceder à sabedoria. Se queremos ser grandes, devemos confessar humildemente a nossa pequenez e fragilidade pois somente assim poderemos atingir a sabedoria e quanto maior se torna o nosso conhecimento, mais evidente fica a nossa ignorância. A pessoa sábia é aquela que tem a humildade de se reconhecer um eterno aprendiz neste mundo de conhecimentos e mistérios e o caminho para chegar à sabedoria é o silencio e a reflexão. A humildade e o trabalho são as únicas ferramentas para construir o sucesso e é mais importante escutar do que falar e tem mais valor caminhar e procurar do que vangloriar-se com as nossas conquistas.
O professor estava estupefacto com a profundidade dos argumentos da velhinha e confidenciou-lhe, com lágrimas nos olhos, que quando era pequenito, queria arrastar um baú que tinha em casa e nem um centímetro conseguiu e que a mãe, vendo os seus esforços em vão, disse-lhe que não fosse orgulhoso e que se pedisse a sua ajuda, isso seria ser esperto ao valer-se de todas as forças disponíveis. Então, a velhinha disse:
– Enquanto o orgulho divide as pessoas, a humildade consegue uni-las. A humildade exprime a verdade da existência de que ninguém é superior a ninguém. Olhe como o sol tem a humildade de oferecer a sua luz para que outros possam brilhar também e, apesar da sua grandeza, esconde-se para que a lua também seja protagonista e brilhe em todo o seu esplendor… Com arrogância e prepotência, é possível ir longe, mas com humildade e respeito conseguir-se-á chegar onde se quiser. Os arrogantes e convencidos acham que valem alguma coisa em virtude das coisas que têm, mas as pessoas humildes consideram que as coisas mais importantes não são coisas e afirmam-se pelo que são. Uma pessoa só deveria olhar para outra de cima para baixo quando fosse necessário ajudá-la a levantar-se. Deveríamos esforçar-nos por chegar onde desejamos, mas sem nos esquecermos de onde viemos.
O professor, já sem palavras, prestou mais atenção àquela misteriosa velhinha e, olhando-a profundamente nos olhos, reconheceu-a. A ganância e o egoísmo do homem tinham-nos afastado inevitavelmente. Os dois abraçaram-se demoradamente e comprometeram-se a recuperar o tempo perdido. A velhinha era a sua própria mãe.
Fonte: Imissio (Paulo Fonte)