Era uma vez uma senhora que vivia sozinha numa casa modesta nas periferias da cidade. Como era filha única, preferira não casar para ter mais disponibilidade para cuidar dos pais idosos e, apesar da vida dura que levara até à sua partida, não havia quem não lhe conhecesse o seu sorriso terno e paciente e as suas palavras cheias de bondade e esperança. Não costumava dar esmolas a ninguém, mas jamais deixara de mãos vazias quem quer que fosse, oferecendo sempre uma peça de fruta, algum produto da terra ou uma flor do seu jardim.
Um dia, um homem bateu-lhe à porta a pedir dinheiro para comprar comida para a sua família que acabara de chegar àquela terra para viver. A senhora disse-lhe que a única coisa que lhe podia oferecer eram algumas maçãs e meia-dúzia de batatas do seu quintal, mas que ia fazer ainda melhor: ceder-lhe-ia um pedaço de terra para que ele mesmo pudesse cultivar alguns produtos agrícolas e que, se ele quisesse, tinha todo o gosto em ensiná-lo. O homem, com lágrimas nos olhos, agradeceu e ela logo disse:
– Amigo, não tens de agradecer-me. A solidariedade, mais do que uma palavra, é a melhor expressão de amor ao outro, é o próprio amor em movimento, numa atitude que revela o melhor de nós mesmos e onde a generosidade e o altruísmo acontecem de forma sublime. A verdadeira solidariedade é gratuita, desinteressada, não espera nada em troca e pode fazer a diferença e mudar a vida de alguém. A solidariedade não é propriamente dar o que nos sobra, mas oferecer o que falta a alguém, fazendo feliz quem partilha e melhorando a vida de quem recebe. Mais do que um favor que se faz, a solidariedade representa um compromisso real e concreto com quem precisa. Sou feliz a ajudar e a partilhar o que tenho. Conta comigo e sê feliz.
Umas semanas mais tarde, um jovem casal estrangeiro com uma criança pela mão bateu à porta da senhora a pedir informações sobre um lugar para morar pois haviam fugido da guerra e da fome que devastava o seu país. Então, a senhora compadeceu-se deles e logo disse que poderiam ficar o tempo que fosse necessário em sua casa e que, com a madeira das árvores que do pinhal que possuía, ajudá-los-ia a construir uma casa na sua propriedade. O casal não sabia o que dizer ou pensar e, comovidos, abraçaram a senhora. De seguida, ela disse-lhes:
– Quem ajuda alguém que precisa não está apenas a auxiliar uma pessoa, mas está verdadeiramente a tornar o mundo melhor, pois a solidariedade fortalece a esperança na construção de uma sociedade mais humana, fraterna, justa e harmoniosa. A solidariedade é o sentimento que melhor demonstra o respeito pela dignidade humana e a qualidade que melhor expressa o compromisso na edificação de uma civilização renovada e transformada pelo amor. Enquanto o egoísmo nos desafia a sermos melhores do que os outros, a solidariedade convida-nos a sermos melhores para os demais. Vamos lá tratar da vossa hospedagem e da construção da vossa casa.
A caridade da senhora era cada vez mais conhecida por toda a região e muitas eram as pessoas que iam a sua casa para desabafar, pedir conselhos ou, simplesmente, para chorar ou receber um abraço. Ela tinha sempre tempo para escutar e ajudar e quando um dia um sacerdote elogiou a amabilidade com que tratava os demais, ela disse-lhe:
– A solidariedade torna-nos mais humanos, diz-nos para nos colocarmos no lugar dos outros e para acolhermos e cuidarmos deles como irmãos e transcende-nos, arrancando de nós o melhor de nós mesmos. A necessidade e o sofrimento dos outros acontecem em nós como se fossem realmente nossos. Eu acredito que a felicidade consiste em partilhar amor e solidariedade e o vazio que por vezes as pessoas sentem podia ser preenchido plenamente com a generosidade e o altruísmo que brotam do coração.
A senhora foi envelhecendo, não deixando jamais de ajudar as crianças da vizinhança com mais dificuldades na escola e de visitar os doentes e idosos da cidade e por muitas gerações se contaram histórias daquela que não sabia fazer outra coisa senão ser solidária e que dizia que o amor era a única fórmula da felicidade.
Fonte: Imissio