Era uma vez um velho professor que dava aulas numa aldeia perdida entre as montanhas. Havia formado várias gerações daquela região e andava amargurado por se dar conta que as crianças daqueles últimos anos pareciam mais egoístas, menos simpáticas e brincarem cada vez mais vezes sozinhas ou em pequenos grupos.
Um dia, algumas crianças aperceberam-se que as suas lancheiras tinham desaparecido e rapidamente começaram a acusar-se mutuamente e a identificar potenciais ladrões entre os colegas que consideravam menos confiáveis ou mais travessos. Ao ver a confusão geral e o mau ambiente instalado, o professor apelou à calma e pediu que todos estivessem atentos nos dias seguintes para se averiguar se a coisa se repetia.
A verdade é que, logo no dia seguinte, as crianças deram-se conta que era uma cadela que entrava sorrateiramente na escola e levava alguns merendeiros. Então, duas delas foram atrás dela e descobriram que ela tinha parido seis cãezinhos na floresta e estava a alimentá-los. Quando as crianças da escola souberam da verdade, ficaram todas enternecidas e arrependidas por terem julgado os colegas e decidiram levar todos os dias comida para os cãezinhos. Então, o velho professor disse:
– Muito bem, meninos. Por vezes, apressamo-nos a pensar coisas dos outros, sem saber o que está por trás das suas atitudes. Temos de proceder de forma diferente e a isso chama-se empatia. Ela acontece quando conseguimos deixar de ser egoístas e nos esforçamos por sentir como nosso o que o outro sente. A sociedade seria bem melhor se cada pessoa fosse capaz de se colocar no lugar do outro e se perguntasse como seria a situação se fosse consigo. Quando há empatia no nosso coração, sentimos um desejo enorme de acabar com o sofrimento dos demais. A empatia, a compaixão e o amor são as dimensões essenciais da vida que precisamos trabalhar para nos tornarmos verdadeiramente humanos. Estou muito satisfeito com a vossa atitude.
Nas semanas seguintes, uma das crianças chegava atrasada todos os dias e os seus resultados estavam a baixar significativamente. Os colegas não demoraram a comentar que era o resultado de ser um aluno pouco responsável e pouco empenhado.
Preocupado com os atrasos e diminuição do rendimento do aluno, o professor foi a sua casa conversar com os pais. Para seu espanto, ficou a saber que a mãe estava muito doente e, por isso, a criança andava triste e, como tinha que colaborar nas lides da casa e cuidar da irmãzinha mais pequenina, não estava a conseguir chegar às aulas a horas. Então, no dia seguinte, o professor pôs a turma a par de toda a situação do colega e todos ficaram muito sensibilizados e comovidos. Depois disse às crianças:
– Voltámos a pensar e a dizer coisas de forma injusta. Mais do que sentir o que o outro sente, a empatia tem a ver com estar com ele, mesmo que seja sem dizer absolutamente nada. Para compreender os demais, o desafio mais importante é tentar escutar o que estão a dizer, mesmo que nunca venham a dizê-lo com palavras. Quem não for capaz de tentar compreender um olhar e um silêncio, também não conseguirá entender uma explicação, por mais elaborada que seja. Vamos fazer a nossa parte para que o nosso amigo ultrapasse esta fase difícil, melhore as notas e a sua mãe recupere a saúde.
Depois de todas as crianças se terem comprometido a serem melhores umas com as outras, a mais novinha disse que poderiam construir os óculos mágicos da empatia e, quando tivessem que falar de alguém, punham-nos para serem capazes de ver as coisas com os olhos do outro e não terem a visão das nossas ideias refletidas nos seus olhos. Todos adoraram a interessante e criativa ideia da colega e puseram mãos à obra. Então, o professor, envaidecido com os seus meninos, disse-lhes:
– Estou orgulhoso de vocês. A empatia é um dos mais belos sentimentos e mais nobres qualidades do ser humano. O mundo seria um lugar bem melhor se superássemos os preconceitos e praticássemos a empatia e o respeito pelos outros. A empatia é tentar perceber os outros nas suas circunstâncias, ver o mundo com os seus olhos e apreciar os seus pontos de vista. Então, vamos todos colocar os óculos mágicos da empatia!
Fonte: Imissio