Fé viva, testemunhada

Durante a última catequese, o Papa Francisco enfatizou que “o Evangelho ainda é esperado nos dias atuais, e a humanidade de todos os tempos necessita do seu anúncio”.

Catequese 26: A paixão pela evangelização: o zelo apostólico do crente – O anuncio é alegria

Caríssimos irmãos e irmãs, bom dia!

Depois de ter encontrado várias testemunhas do anúncio do Evangelho, proponho-me resumir este ciclo de catequeses sobre o zelo apostólico em quatro pontos, inspirados na Exortação apostólica Evangelii gaudium, que este mês completa dez anos. O primeiro ponto que hoje analisamos, o primeiro dos quatro, não pode deixar de se referir à atitude de que depende a substância do gesto evangelizador: a alegria. Como ouvimos nas palavras que o anjo dirigiu aos pastores, a mensagem cristã é o anúncio de «uma grande alegria» (Lc 2, 10). E a razão? Uma boa notícia, uma surpresa, um acontecimento agradável? Muito mais, uma Pessoa: Jesus! Jesus é a alegria! Ele é o Deus que se fez homem e que veio ao nosso encontro! Portanto, estimados irmãos e irmãs, a questão não é se o anunciar, mas como o anunciar, e este “como” é a alegria. Ou anunciamos Jesus com alegria, ou não o anunciamos, porque outra maneira de o anunciar não é capaz de comunicar a verdadeira realidade de Jesus.

Eis porque o cristão descontente, o cristão triste, o cristão insatisfeito ou, pior ainda, ressentido e rancoroso não é credível. Falará de Jesus, mas ninguém acreditará nele! Uma pessoa disse-me certa vez, falando destes cristãos: “Mas são cristãos com cara de bacalhau!”, ou seja, não exprimem nada, são assim, e a alegria é essencial. É essencial vigiar sobre os nossos sentimentos. A evangelização atua a gratuidade, porque vem da plenitude, não da pressão. E quando se pratica a evangelização – quer-se fazê-la, mas não assim – com base em ideologias, isso não é evangelizar, isso não é o Evangelho. O Evangelho não é uma ideologia: o Evangelho é um anúncio, um anúncio de alegria. As ideologias são frias, todas. O Evangelho tem o calor da alegria. As ideologias não sabem sorrir, o Evangelho é um sorriso, faz-nos sorrir porque toca a nossa alma com a Boa Nova.

O nascimento de Jesus, tanto na história como na vida, é o princípio da alegria: pensemos no que aconteceu aos discípulos de Emaús, era tanta a alegria que não podiam acreditar, e aos outros, depois, aos discípulos todos juntos, quando Jesus vai ao Cenáculo, era tanta a alegria que não podiam acreditar (cf. Lc 24, 13-35). A alegria de ter Jesus ressuscitado. O encontro com Jesus traz-nos sempre alegria, e se isto não nos acontece, não é um verdadeiro encontro com Jesus.

E aquilo que Jesus faz com os discípulos diz-nos que os primeiros que devem ser evangelizados são os discípulos, os primeiros que devem ser evangelizados somos nós, cristãos: somos nós. E isto é muito importante!

Com efeito, imersos no clima frenético e confuso de hoje, também nós poderíamos encontrar-nos a viver a fé com um leve sentido de renúncia, persuadidos de que para o Evangelho já não há escuta e que não vale mais a pena esforçar-se para o anunciar. Poderíamos até ser tentados pela ideia de deixar que “os outros” sigam o próprio caminho. Pelo contrário, precisamente este é o momento de voltar ao Evangelho para descobrir que Cristo «é sempre jovem e fonte constante de novidades» (Evangelii gaudium, 11).

Assim, como os dois de Emaús, volta-se à vida de todos os dias com o ímpeto de quem encontrou um tesouro: aqueles dois eram jubilosos, porque tinham encontrado Jesus, e isto mudou a vida deles. E descobre-se que a humanidade está repleta de irmãos e irmãs que aguardam uma palavra de esperança. O Evangelho é esperado até hoje: o homem de hoje é como o homem de todos os tempos, precisa dele, inclusive a civilização da incredulidade programada e da secularidade institucionalizada; aliás, sobretudo a sociedade que deixa vazios os espaços do sentido religioso, precisa de Jesus. Este é o momento favorável para o anúncio de Jesus. Por isso, gostaria de dizer novamente a todos: «A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, a alegria nasce e renasce sem cessar» (ibid., 1). Não nos esqueçamos disto. E se algum de nós não sentir esta alegria, que se pergunte se encontrou Jesus. Uma alegria interior! O Evangelho vai pelo caminho da alegria, sempre, é o grande anúncio. Convido cada cristão, em qualquer lugar e situação em que esteja, a renovar hoje o seu encontro com Jesus Cristo. Que cada um de nós, hoje, dedique um pouco de tempo para pensar: “Jesus, Tu estás dentro de mim: quero encontrar-te todos os dias. Tu és uma Pessoa, não uma ideia. Tu és um companheiro de caminho, não um programa. Tu és o Amor que resolve tantos problemas. Tu és o início da evangelização. Tu, Jesus, és a fonte da alegria”. Amém!

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Saudações:

Saúdo cordialmente os fiéis de língua portuguesa, de modo especial os parlamentares vindos de Portugal e os grupos de Guarulhos e Recife. Lembremo-nos que um cristão triste é um triste cristão; por isso, procuremos sempre ser alegres no testemunho do Evangelho. Deus vos abençoe!

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Resumo da catequese do Santo Padre:

Após falar sobre diversas testemunhas do anúncio do Evangelho, proponho, como síntese destas catequeses sobre o zelo apostólico, quatro pontos baseados na Exortação apostólica Evangelii gaudium. O primeiro deles, que veremos hoje, diz respeito à atitude que deve caracterizar toda a ação evangelizadora: a alegria. Como ouvimos, nas palavras do Anjo aos pastores, lhes é anunciada uma “grande alegria”, e a razão desta é a pessoa de Jesus. Ele é o nosso Evangelho, é Deus feito homem para a nossa salvação, é a fonte da verdadeira alegria. Sendo assim, um cristão triste, insatisfeito ou, ainda pior, ressentido ou rancoroso não possui credibilidade. Se o nascimento de Jesus é a fonte da alegria cristã, a plenitude desta é a Páscoa. Isto se entende no maravilhoso relato dos discípulos de Emaús, no qual vemos como, acompanhados por Jesus, se pode passar do desconforto e da tristeza à alegria pascal. Os dois discípulos, reanimados pelo encontro com Jesus, isto é, com a Sua Palavra que faz arder os corações e com a Sua presença amorosa no pão partido, regressam sem demoras a Jerusalém para anunciar com alegria aos demais a Boa Nova da Ressurreição. Vemos assim que a alegria cristã não vem de nós mesmos, mas é um dom do Espírito do Ressuscitado. Por isso gostaria de recordar novamente a todos: “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria” (EG 1).