Era uma vez uma rainha cuja fama era conhecida entre as nações em virtude das suas numerosas conquistas e pela sabedoria que sempre revelara na gestão das coisas do reino. Passava grande parte do seu tempo a receber monarcas de outros países que a iam visitar e aconselhar, mas, para surpresa geral, nos últimos tempos, muitas comitivas batiam com o nariz na porta e tinham de regressar a casa sem terem sido recebidas e isso causava deceção e perplexidade.
Como chegara o dia do aniversário da rainha, teve lugar a habitual festa popular junto ao castelo que juntava a maior parte dos plebeus do reino e as pessoas mais importantes e abastadas ofereciam-lhe riquíssimos presentes. Para espanto de todos, nesse ano a velha monarca não parecia ficar entusiasmada com nada do que lhe ofertavam e apenas ficara feliz com o presente de uma menina de uma aldeia próxima que se aproximara, por entre as pernas dos adultos, com um pequeno ramo de flores do campo.
O gesto simples daquela menina simples da aldeia que oferecera um simples molho de flores campestres enchera o coração da rainha que há muito tempo demonstrava estar cansada de tanta opulência e rituais reais, tantos problemas complicados na administração da coroa e tanta aparência e hipocrisia. Então, disse ao povo:
– Recebi o mais belo presente de toda a minha vida. Este raminho de flores do campo foi-me oferecido por uma criança de uma das nossas aldeias e fez-me pensar na importância da simplicidade. O simples tem um encanto singular que nos cativa, deixa-nos sem reação e sem palavras e apenas nos apetece ficar em silêncio a saborear e a contemplar as coisas. É tão bom olhar a simplicidade das coisas e perceber que aquilo que é simples é perfeito e magistral. A vida é simples, mas nós teimamos em complicá-la e em não compreender que a felicidade está nas realidades simples da vida. As coisas mais belas, profundas e extraordinárias são simples e dizem-se com simplicidade e somente aqueles que sentem e pensam com sabedoria as encontram e valorizam. Ser simples é viver de forma natural, transparente, humilde e descomplicada, valorizando aquilo que realmente importa. Ser simples é apreciar a vida com a leveza, brilho e encanto com que o fazem as crianças. Eis o meu desafio: sejamos simples.
A multidão bateu palmas ao discurso da rainha e a maior parte do povo identificou-se com a visão simples da vida que ela expressara em palavras. Foi então que começaram a levantar a hipótese de que as pessoas desconhecidas que tinham visto por entre as montanhas e vales nas semanas mais recentes talvez fossem a própria rainha disfarçada e isso justificasse as suas ausências do palácio.
A verdade é que, na semana seguinte, alguns homens viram a rainha com uma roupa muito discreta e simples no cume de uma montanha das proximidades a contemplar o pôr do sol e perguntando-lhe porque andava sem os guardas reais e longe das comodidades dos seus aposentos, ela sorriu e respondeu:
– Descobri que as coisas mais valiosas não custam dinheiro e são muito simples. Acham que há coisa mais bela do que ver o sol a esconder-se no horizonte, observar as borboletas a esvoaçar e as flores a dançar com o vento ou escutar os passarinhos a chilrear? Nada mais bonito do que a simplicidade de um abraço, a cumplicidade de um olhar ou o sorriso da amizade e do amor. Viver é um exercício de simplificação das coisas e o desafio permanente de desatar os nós daquilo que são os problemas e as complicações que sempre aparecem em cada esquina. A simplicidade necessita de ousadia e somente ela nos consegue seduzir a sério. É na simplicidade que se encontra o essencial da existência e se manifesta a excelência e a genialidade das pessoas.
Aqueles homens ficaram deslumbrados com os pensamentos da velha rainha e não tardou a espalhar-se por todo o reino que ela lhes confessara que queria viver os seus últimos anos entre o povo simples do seu reino. A monarca, que era chamada de rainha conquistadora, passou a ser conhecida como a rainha da simplicidade.
Fonte: Imissio