Era uma vez um sacerdote que era muito estimado por todos os seus paroquianos. A suas celebrações na igreja eram muito concorridas e muitas pessoas gostavam de desabafar e de se aconselhar consigo. Demonstrava sempre muita serenidade e sabedoria e a sua fama ultrapassara fronteiras.
Um dia, um homem foi falar com o padre e parecia preocupado e desolado. Numa festa da empresa e sob o efeito do álcool, o homem tinha-se envolvido com uma colega de trabalho e, como era casado, sentia-se arrependido e precisava de pedir a opinião do eclesiástico. Então, muito calmamente, o sacerdote disse-lhe:
– Amigo, quando o amor é a sério, ser fiel não custa nada, pois a fidelidade tem de ser algo natural e espontâneo. Se é preciso muito esforço e sacrifício, deixa de ser fidelidade para passar a ser um fardo e um martírio. A fidelidade é a essência do amor e por isso é que é difícil tolerar e perdoar uma traição. A fidelidade é uma questão de carácter, atitude, valores e decisão. Antes de mais, é essencial ser fiel a si mesmo, aos seus compromissos, valores, princípios e sentimentos. Esta é a nossa grande obrigação e missão. A fidelidade não é apenas não trair o outro mas não se trair a si mesmo.
O homem agradeceu as palavras do sacerdote e foi embora, determinado a falar com a esposa. Contudo, não só não teve coragem de confessar a traição, como voltou a cair outra vez na semana seguinte. Então, decidiu voltar a ir falar com o padre e ele voltou a chamá-lo à razão e a incentivá-lo à fidelidade:
– Nestas coisas dos relacionamentos, não convém facilitar porque somos frágeis e as tentações são mais que muitas. Alimentar o afeto, ser prudente e estar vigilante é a melhor forma de manter a fidelidade. Não se trata propriamente de fidelidade se não houver a oportunidade de se ser infiel. Ser fiel, íntegro e leal faz de nós pessoas melhores. Na verdade, só a fidelidade nos pensamentos, palavras e ações garante a felicidade. Ser fiel é nunca romper a confiança que depositam em nós e se alguém a perder jamais o relacionamento voltará a ser o que era.
O homem chorava compulsivamente porque não se sentia digno do amor da esposa e percebia que não estava a ser fiel ao compromisso assumido solenemente naquele que fora o dia mais bonito da sua vida. Então, o sacerdote disse-lhe:
– Olha, a fidelidade constrói-se nos pequenos gestos, pois quem não conseguir ser fiel nas coisas pequenas jamais o será nas grandes. A infidelidade não é um descuido pois tudo é uma questão de personalidade e de respeito. A fidelidade prova-se na adversidade e ter um amigo ou amar alguém que seja fiel é o maior dos tesouros. Deus não muda e nunca deixará de nos ser fiel, mesmo que lhe sejamos infiéis ou sejamos infiéis uns aos outros. Alguns animais de estimação ensinam-nos de uma forma muito bela o que é a fidelidade pois querem estar connosco e gostam de nós de maneira gratuita e desinteressada. Vai e conversa com a tua esposa e para de lhe ser infiel.
O homem não sabia como dizer a verdade à esposa, mas não conseguia viver com o sentimento de culpa nem queria continuar com a esposa numa vida dupla. A verdade é que um dia decidiu abrir o jogo com a esposa e a reação, como seria de esperar, foi de desilusão, desespero e infelicidade completa.
A mulher não conseguia entender o que levara o marido a manchar uma relação que sempre fora tão bonita e perfeita e não teve outro remédio senão dizer-lhe que não voltaria a ser capaz de olhar para ele da mesma maneira e que não havia outra saída a não ser o divórcio. Achava que se ele tinha sido capaz de ser infiel naquelas duas ocasiões, o mais certo é que o repetisse mais vezes ao longo da vida.
O homem disse-lhe que a amava como nunca amara ninguém e que o que mais desejava é que ela fosse feliz, mesmo que fosse sem si. A melhor maneira de a amar era deixá-la ir, pois ele não era digno do seu amor. A verdade é que aquelas palavras tocaram o coração da mulher e, passados três meses, ela decidiu perdoar o marido e voltaram a viver juntos. Tiveram três filhos e foram felizes e fiéis para sempre.
Fonte: Imissio (Paulo Costa)