Era uma vez um jovem que teimava em olhar para a vida com alguma rebeldia e para a sociedade como se não tivesse de respeitar regra alguma. Os pais andavam desanimados com os seus comportamentos, pois avolumavam-se as queixas que lhes chegavam por parte de professores, familiares, amigos e até autoridades.
Apesar de contrariado, os pais convenceram-no a ir acampar consigo durante o fim de semana, argumentando que seria bom voltarem a estar juntos na montanha, como faziam antigamente. Durante a viagem, não se cansou de desafiar o pai a ir mais depressa, dado que havia pouco trânsito e não se avistava a polícia por perto. Então o pai disse-lhe:
– Olha, a ética é o conjunto de valores e princípios que decidem os três verbos mais importantes da vida: poder, querer e dever. Há coisas que eu quero, mas não devo, há coisas que eu devo mas não quero e há coisas que eu posso mas não quero nem devo. É essencial não deixarmos que a nossa consciência fique adormecida ou anestesiada, para que não pensemos que tudo é normal, permitido ou possível. Achar que tudo é subjetivo, relativo e depende da opinião e consciência de cada pessoa pode ser um caminho lamacento e escorregadio. Não é porque não vemos a polícia nas proximidades que devemos deixar de fazer o que está certo e não devemos cumprir apenas porque não queremos apanhar uma multa.
Ao chegarem à montanha, o rapaz ajudou os pais a montar a tenda, mas depressa desapareceu, deixando-os muito preocupados. Depois de uma hora à sua procura, encontraram-no a pescar num lago das redondezas. A mãe não demorou a dar-se conta de que havia uma tabuleta que proibia a pesca naquele espaço e repreendeu o filho por, mais uma vez, ter transgredido as regras. Voltou a desculpar-se com a ausência das autoridades e questionou a proibição, definindo-a sem sentido. Após ter deitado à água os três peixes apanhados que ainda estavam vivos, a mãe disse-lhe:
– Filho, nós somos sobretudo aquilo que fazemos ou não fazemos quando ninguém está a observar-nos. Uma pessoa que se vista com as roupas da ética estará sempre bonita e elegante e ser eticamente irrepreensível é a melhor coisa que se poderá dizer de alguém. Se está dito que não se pode pescar, não se pesca e ponto final.
No dia seguinte, os três foram dar um passeio pela floresta e, para surpresa de todos, o jovem encontrou uma mochila e logo se apressou a ver o que tinha dentro. Como havia uma carteira, quis ficar com o dinheiro, mas o pai censurou-o, dizendo que teriam de fazer o que era correto, até porque estavam ali os documentos do proprietário da mochila. Depois, disse-lhe:
– Tenho dificuldade em perceber porque é que parece que esqueceste todos os valores com que te educámos com tanto amor. Claro que temos de entregar a mochila à polícia Olha, não ter ética significa agir como se não vivêssemos em sociedade e estivéssemos sozinhos na selva, numa anarquia completa. A mais terrível pandemia que anda por aí é a falta de ética pois pode acabar irremediavelmente com a espécie humana.
Quando estavam a caminho da tenda, encontraram um homem caído no chão. Imediatamente, o jovem disse que deveriam levar o senhor ao hospital e que o melhor era terminarem mais cedo o fim de semana em família e aproveitar a ida ao hospital da cidade para passar pela esquadra da polícia e entregar a mochila que tinham encontrado. Os pais entreolharam-se orgulhosos e a mãe disse-lhe:
– Não imaginas a alegria que nos acabas de dar. Sabes, a ética implica a condição da possibilidade consciente, livre e responsável de escolha, opção e decisão e tu provaste que percebeste o que é ser verdadeiramente livre. Compreendeste, finalmente, a diferença entre o poder, querer e dever. A liberdade sem ética é uma falsa liberdade. É libertinagem que não respeita nem compreende os demais.
Aquele fim de semana cheio de vivências e aprendizagens mudaram o jovem para sempre e o respeito pelos valores éticos passou a ser a sua imagem de marca.
Fonte: Imissio (Paulo Costa)