Era uma vez um rapaz que era o melhor aluno da escola e era o filho do mais rico empresário da região. Apesar de ter tido uma boa educação dos pais, a verdade é que se julgava superior aos outros, era arrogante e presunçoso e, como sempre tivera tudo quanto queria sem esforço algum, não dava valor às coisas que possuía.
Um dia, os pais foram chamados à escola porque não andava a cumprir diversas regras. Não levantava o braço para falar na sua vez, não escutava com atenção os colegas quando davam a sua opinião, desprezava os companheiros que não pensavam como ele ou tinham gostos diferentes dos seus, queria sempre impor a sua vontade nos jogos do recreio, queria passar sempre à frente nas filas e não pedia desculpa quando errava.
Os pais ficaram muito tristes e desiludidos com o filho, até porque eram de famílias modestas e sempre foram muito respeitadores com toda a gente. O pai disse-lhe:
– Filho, o respeito por si mesmo e pelos outros é das mais importantes aprendizagens da vida e, como sabes, sempre foi uma virtude que te ensinámos desde pequenino. Não somos obrigados a aceitar, concordar ou gostar de quem quer que seja, mas respeitar toda a gente é um dever e uma obrigação de cada um de nós. Somos todos diferentes, mas o respeito uns pelos outros é a qualidade que todos devemos ter em comum. Na verdade, o respeito é a base e o princípio de todas as coisas e sem ele, não há confiança, nem amizade nem amor. Acreditamos que vais pensar nisto e mudar.
Como aquela situação dececionara tanto os pais do rapaz, eles passaram a estar ainda mais atentos aos seus comportamentos. Para seu desapontamento, deram-se conta de que, por vezes, fazia comentários menos agradáveis em relação aos empregados da empresa, desdenhava dos pobres e dos sem-abrigo, menosprezava os homens da limpeza das ruas, inferiorizava as pessoas de outras raças e etnias e desvalorizava as preocupações ambientais e a dignidade dos animais. Então, a mãe disse-lhe:
– Filho, não sei o que se passa contigo. Tu não eras assim. O respeito tem a ver com a forma como nos comportamos na presença uns dos outros, mas, sobretudo, na sua ausência. Ele é a melhor expressão do nosso carácter e a maior prova do valor que damos à dignidade humana e à consciência dos demais. É tão importante viver e desfrutar das nossas semelhanças e do que temos em comum, como respeitar as nossas diferenças e ter consideração por aqueles que não são, pensam ou agem como nós. Como não tens respeitado nada nem ninguém, nas férias vais trabalhar na nossa empresa como qualquer funcionário para ver se começas a dar valor às pessoas.
Apesar de contrariado, não teve outra hipótese senão a de obedecer à decisão dos pais, e trabalhou, transpirou, teve fome e cansou-se como nunca e escutou, conversou, refletiu e conheceu-se como em momento algum. A verdade é que a experiência dura que estava a viver fê-lo cair em si e não demorou a reconheceu que errara.
Então, a mãe pegou numa folha branca de papel e pediu ao filho que fizesse uns rabiscos a lápis e a dobrasse e amarrotasse um pouco. Depois, disse-lhe que apagasse os traços que fizera com uma borracha e alisasse o melhor possível a folha. Como, apesar de todo o seu empenho, era impossível fazer desaparecer todos os riscos e dobras, a mãe disse-lhe que assim era a falta de respeito nas relações humanas pois nada voltava a ser normal, saudável e digno como antes. Então, o pai disse-lhe:
– Filho, ainda bem que aprendeste alguma coisa durante estas semanas. O caráter e o respeito não são coisas que dizemos que temos, mas só existem se as demonstrarmos com gestos concretos. Devemos preocupar-nos mais em ter o respeito das outras pessoas do que propriamente em lutar pela sua admiração. É bem melhor ser respeitado pelo que se é do que ser temido pelo que se diz e faz, pois o medo é uma imposição e o respeito é uma conquista. Somente quem respeita pode exigir respeito e a verdade é que há muitas pessoas que não têm respeito pelos outros porque nem por si mesmos o têm. Com egoísmo e arrogância até poder ser possível ir longe, mas com respeito e humildade pode-se chegar onde se quiser. E não te esqueças da folha de papel…
Fonte: Imissio (Paulo Costa)