O mundo está cada vez mais barulhento, como se a maior parte das pessoas estivesse perdida e atormentada. Correm e gritam como se pressentissem uma desgraça maior do que a morte: uma existência sem sentido.
Este pânico contagia-se, mas em vez de nos fazer voltar os olhos e o empenho para a rumo certo, gela-nos e faz-nos juntar aos que não arriscam a sua existência habitual em troca da felicidade que é rara, mas possível.
Tantas vezes é assim no mundo como dentro de nós. Um ruído enorme parece invadir cada recanto do nosso ser. Um vazio que sufoca a nossa voz interior.
As pessoas estão cada vez mais dependentes das lógicas das massas, bandos, manadas, multidões e afastam-se de tudo quanto as podem levar a ficar sozinhas. E fazem barulho para avisar os outros de onde estão e os outros não os percam. Alguns chegam a sonhar deixar de ser quem são, fugirem de si mesmos… para serem apenas… mais um.
O silêncio, que tantas vezes pode ser árido e frio, é a base da nossa natureza, o chão comum às nossas almas. O silêncio cura, porque a verdade só nele se revela.
Há quem não seja capaz de viver sem barulho, necessita do ruído porque não é capaz de se suportar a si mesma, enquanto impõe aos outros o que ela mesma não aguenta.
Uma palavra ou duas bastam para dizer tudo o que é importante. Por vezes, basta um ‘Eis-me aqui’ para que o amor se faça presença e fira de morte a solidão do outro.
Um coração em sofrimento não faz barulho, nem mesmo quando se parte.
O barulho não é bom e o bem faz-se de forma discreta.
Quando é o silêncio quem desperta em nós uma espécie de alegria que é luz… quando quase conseguimos adivinhar uma melodia belíssima escondida por detrás de um silêncio bom e amável… quando é assim, precisaremos de muito poucas palavras para fazer milagres nas vidas daqueles a quem somos chamados a tocar.
Não faças barulho. Foge dele.
Não temas o silêncio. Aceita-o e procura nele o que mais precisas. Encontrarás.
Fonte: Imissio (José Luís Nunes Martins)