Era uma vez um velho lavrador que andava a apanhar batatas no seu campo. O sol abrasador deixara-o a transpirar por todos os lados, mas estava determinado a terminar a sua labuta antes do entardecer. Então, decidiu pedir ajuda ao seu filho mais velho, mas ele disse-lhe que não podia pois não tinha tempo e andava com alguns problemas pessoais. O lavrador disse-lhe:
– Olha, filho, se quiseres desabafar, conta comigo. Mas não digas que não podes, mas sim que não queres. A nossa disponibilidade revela quais são as nossas prioridades. É importante termos disponibilidade para estarmos disponíveis. Nós arranjamos sempre tempo e disponibilidade para as coisas e pessoas que são importantes para nós. Sabes, amaior virtude de uma pessoa é a sua disponibilidade para fazer do seu coração um espaço aconchegante para quem precisa. Na vida tudo é uma questão de tempo, disponibilidade e vontade. É pena que não tenhas tempo para o teu velho pai.
O velho lavrador ficou dececionado com o seu filho mais velho e foi a casa chamar o filho do meio. Ele logo se disponibilizou para ir ajudar o pai, mas disse que precisava de acabar um trabalho. A verdade é que, entretido como estava nas suas coisas, esqueceu-se do pedido do pai e não foi auxiliá-lo na apanha das batatas.
Mais uma vez, o pai ficou triste com a quebra da promessa do seu segundo filho e voltou a casa para chamar o filho mais novo que imediatamente deixou tudo o que estava a fazer para atender ao seu pedido. Então, enquanto apanhavam batatas, disse-lhe:
– Sabes… na verdade não precisava nem da tua ajuda nem da dos teus irmãos, já que, como sempre, vou-me desenrascando sozinho. Mas, queria estar um pouco convosco, pois os afazeres do dia a dia são tantos que fica difícil encontrar tempo e sem alimentarmos a nossa relação, tudo se desmorona. Eu sei que tu és o mais ocupado dos teus irmãos, pois, além das tarefas da escola, tens inúmeras atividades extracurriculares, mas quiseste arranjar tempo para mim. Obrigado por seres assim.
O filho mais novo ficou satisfeito com as palavras do pai e disse-lhe que não tinha feito mais do que a sua obrigação, até porque também ele iria comer das batatas que o pai semeara e agora ajudava a apanhar. Depois de abraçar o rapaz, o pai disse-lhe:
– Há muita gente a julgar e a criticar, mas muito poucos têm disponibilidade para dar o seu contributo, o seu tempo, o que são, têm e sabem. Se alguém precisar de nós, devemos manifestar-lhe a nossa disponibilidade para estar, escutar, ajudar e amar. Por vezes, estar disponível para escutar é tudo o que alguém precisa para se sentir melhor. Por vezes, basta parar um pouco, sorrir e dar um abraço. Era bom que cada pessoa acordasse em cada manhã com a disponibilidade necessária para construir um mundo melhor e lutar pelos seus sonhos. Viver é estar disposto e disponível a aprender, a mudar, a errar, a adaptar-se e a evoluir e amadurecer com os outros.
À noite, ao jantar, o pai ficou a saber que a namorada do filho mais velho acabara tudo com ele e que, por isso, andava desolado e sem vontade para fazer nada. Então, o pai disse aos três filhos:
– Não é saudável estar sempre disponível para quem não nos merece e que só quer estar perto quando necessita de nós e obtêm algum benefício com isso. Não adianta continuar a amar quem não revela disponibilidade connosco. Não vale a pena perder tempo com quem não está disponível para arranjar um pouco de tempo para nós. Para ser disponível é preciso estar disponível, pois não se pode ser sem estar mesmo. Aproveitar bem o tempo disponível, dar-nos-á disponibilidade para arranjar tempo para muitas e variadas coisas. A sabedoria e a felicidade estão disponíveis para todos, bastando apenas que cada um tenha disponibilidade para lutar pelos seus ideais.
Então, os três rapazes abraçaram o pai e a mãe e prometeram arranjar tempo todos os dias para estarem juntos e fazer coisas interessantes e engraçadas uns com os outros. Depois, cada um deles decidiu prescindir de tudo quanto tinha previsto para as semanas seguintes e foram passar um mês de férias em família como o faziam antigamente.
Fonte: Imissio (Paulo Costa)