Quando algo me faz falta, quando experimento um vazio porque não tenho comigo algo ou alguém que são meus… sinto tristeza. A vida é feita de perdas e as perdas são sempre tristes.
A dor é um sinal de que há algo que está a tocar em algum dos nossos limites, fazendo-nos sentir a verdade da nossa fragilidade. A dor alerta-nos para que nos defendamos desse ataque… procura ser um alarme para que lutemos contra o que nos ataca.
Mas há ainda mais dor quando não aceitamos os nossos limites. Quando não nos reconhecemos frágeis, revoltam-nos as nossas incapacidades. Dói-nos a nossa natureza humana. Importa aceitar a finitude da nossa vida e das nossas forças. Os limites do que somos e daquilo que são os outros e o mundo.
O sofrimento engrandece-nos, porque o coração se faz maior como forma de o conter e superar.
Se eu me entrego por amor a outra pessoa, isso não envolve nenhuma garantia de que serei aceite, de que me quer… muito menos de que me ame também. Muito pelo contrário, o amor depende da vontade e a vontade é livre. Assim, a dor que tantas vezes sentimos é afinal apenas a constatação de que somos todos livres… e de que cada um de nós determina o que quer dar e o que quer receber…
Esta condição incerta eleva ainda mais os que decidem entregar a sua vida pela felicidade de outro, apesar de tudo.
E é aqui, neste vazio que fica depois de me entregar, que me apercebo não da minha fraqueza, mas de onde vêm as minhas forças. Parecem brotar do nada. Há uma fonte de alegria em mim… que me alivia as tristezas e me ajuda a aceitar-me tal como sou.
Sei que quanto mais decidir amar, mais terei de sofrer. Mas também sei que se não arriscar entregar a minha vida, nunca chegarei a ser quem sou.
Fonte: Imissio (José Luís Nunes Martins)