Era uma vez uma orquestra que, em virtude do talento e do trabalho dos seus músicos, ganhara fama internacional. Os seus concertos estavam sempre esgotados, venciam inúmeros prémios musicais importantes e todos os instrumentistas estavam ricos.
Um dia, a orquestra estava a fazer um ensaio num jardim público onde daria um concerto nessa noite e levantou-se um grande vendaval a ponto de todos papéis onde estavam as partituras terem sido levadas pelos ares. Como, entretanto, começou a chover, a preocupação dos músicos foi procurar abrigo para proteger os seus instrumentos. A verdade é que, sem partituras, todos tentaram improvisar no concerto da noite e o resultado foi um desastre completo. Todos atribuíram a responsabilidade do falhanço coletivo aos colegas dos outros naipes de instrumentos e a discórdia instalou-se. Então, o maestro disse aos músicos:
– Uma equipa de trabalho sem união e sem harmonia está condenada ao fracasso. Um grupo unido, empático, cúmplice, criativo e empenhado na superação dos obstáculos e na descoberta das melhores soluções, gera sempre resultados surpreendentes, pois o todo é muito mais do que a mera soma das partes. Nenhum de nós sozinho é melhor do que todos nós juntos e unidos, pois tornamo-nos um só corpo e uma só alma. Todos somos muito necessários e importantes. Vamos ao trabalho.
O discurso do maestro caiu em saco roto e, nas semanas seguintes, a rivalidade acentuou-se na orquestra. Os instrumentistas das cordas achavam-se as estrelas da companhia e defendiam a sua qualidade e versatilidade. Os músicos dos instrumentos de sopro de madeira julgavam-se imprescindíveis pois ofereciam dinamismo às interpretações da orquestra. Os instrumentistas dos metais advogavam que somente eles garantiam a dramaticidade e a grandiosidade das obras. Os senhores das percussões, por seu lado, consideravam que apenas eles faziam a orquestra vibrar.
Como os ensaios eram uma autêntica confusão e cada um tocava para o seu lado, o resultado não demorou a fazer-se sentir. Os concertos eram de fraca qualidade, cada vez tinham menos atuações públicas, a fama evaporara-se e a orquestra estava na falência. Então, o maestro reuniu toda a orquestra e disse-lhes em tom solene:
– Vamos parar os ensaios durante um mês. Isto não pode continuar assim. A união é o segredo da força, do sucesso e da vitória. Se não estivermos unidos, dificilmente se concretizarão os nossos projetos comuns e se alcançarão as mudanças necessárias. A união e a perseverança fazem a força e o diálogo e o respeito são decisivos para o discernimento da verdade e para a tomada das decisões mais adequadas. Naquilo que é essencial, devemos fazer tudo para permanecermos unidos e nas coisas que não são fundamentais devemos ser flexíveis, respeitarmos a consciência de cada um e acolher as nossas diferenças como uma riqueza. Saiam da minha vista e reflitam muito.
Aquele discurso inflamado do maestro foi ao fundo do coração de todos os músicos que aproveitaram aquelas semanas para pensar. A verdade é que quando voltaram aos ensaios, todos se abraçaram, lamentaram a desunião que tudo estragara e prometeram empenhar-se mais que nunca para que a orquestra voltasse a ser o que era. Então, o maestro congratulou-se com o entusiasmo dos músicos e disse:
– Sozinhos podemos vencer de vez em quando, mas em grupo podemos ganhar muito mais frequentemente. O grupo sabe que só alcançará os seus objetivos quando todos os seus membros remarem unidos na mesma direção. A verdade é que, se quisermos caminhar rapidamente, até pode dar jeito ir sozinho, mas se quisermos chegar longe, a melhor forma é ir em grupo. O trabalho em equipa é mais enriquecedor e valioso pois permite que alcancemos as metas mais difíceis. Não importa se o desafio é grande, pois basta que a união seja enorme. Juntos somos mais fortes, mas unidos tornamo-nos invencíveis. Se estivermos unidos, nada é impossível para a nossa orquestra.
Os momentos de glória do passado voltaram, a qualidade musical era ainda maior do que antes e aquela tornou-se a mais importante e aclamada orquestra do mundo.
Fonte: Imissio (Paulo Costa)