O que significa este pedido? Que nunca nos encontremos com o mal, menos ainda com o Maligno? Ou será que há outro significado?
Será possível que, na verdade, já estejamos imersos no mal, tão aprisionados por ele que nem percebemos? Nesse caso, ao pedir para sermos libertados do mal, estamos a suplicar que alguém nos venha buscar a este lugar onde, talvez sem perceber, nos viemos afundar.
O maior perigo que corremos é o de não chegar a viver a vida que podemos viver. Esta vida possível, mas não vivida, dói muito fundo, porque o sofrimento que inflige é da nossa inteira responsabilidade, por não termos sido capazes de ousar, por não acreditarmos em nós e nos outros. Idealizamos muitos sonhos, mas como somos muito cautelosos, nunca arriscamos realizá-los. E é assim que o mal vence, mantendo-nos limitados, reprimidos e bem presos ao chão.
Precisamos de sair daqui. De sair desta prisão onde o mal já nos chega a parecer normal. Peçamos ao bem que nos ajude, liberte e salve destes momentos em que chegamos a pensar que o mal é bem.
E há o mal que vive dentro de nós. Como posso livrar-me dele? Quem me pode ajudar a arrancar as suas raízes do fundo do meu íntimo… os vícios que me escravizam, os medos que me paralisam, as amarguras que me destroem?
A linha que separa o bem do mal passa pelo meio de cada um dos nossos corações. Cada um de nós tem em si bem e mal. A qual deles concedemos mais espaço? Uma vez seduzidos pelas promessas do mal, e caídos na sua desgraça, eis que se torna quase impossível recuperar o que perdemos de nós.
Que sejamos desenredados do mal, que se rompam os laços com que as nossas esperanças se mantêm moribundas.
… mas livrai-nos do mal… para que possamos recuperar o poder que nos foi dado com o dom da nossa vida! A verdadeira liberdade de ser quem podemos ser.
Fonte: Imissio (José Luís Nunes Martins)