Era uma vez uma jovem que era muito divertida e brincalhona e tinha fama de ser muito frontal e corajosa. Toda a gente gostava muito dela, apesar de haver alguns colegas que achavam que, por vezes, ela pisava o risco no humor que usava ao referir-se às coisas e às pessoas e que nem sempre revelava bom senso e prudência nas suas tomadas de decisão.
Um dia, a rapariga estava muito animada nas aulas e particularmente sarcástica nos seus comentários e excedeu-se nas considerações que fez à forma como um professor dava as aulas e á maneira como ele se vestia, provocando risota geral na turma. O professor não apreciou o seu comportamento e expulsou-a da aula. Então, o pai da jovem foi chamado à escola para falar com o diretor e à noite disse à filha:
– Filha, não pode ser. Envergonhaste-me porque foste imprudente, indelicada e ofensiva naquilo que disseste hoje ao professor. A prudência é das maiores amigas da sabedoria e, muitas vezes, o silêncio é a melhor atitude que podemos tomar para evitar ou resolver problemas ou conflitos. É que não é conveniente dizer tudo aquilo que se pensa sem anteriormente termos pensado tudo quanto queremos dizer. A pessoa prudente não diz tudo o que sente e pensa, mas pensa e reflete em tudo o que diz. É melhor ser prudente ao falar e ao fazer as coisas do que precipitar-se, não revelar precaução e juízo e dar tudo errado.
A rapariga pediu desculpa ao pai e à mãe e prometeu fazer o mesmo junto do professor e do diretor da escola e disse para si mesmo que passaria a ser mais sensata e prudente. Mas, passados uns dias, ia para casa sozinha e uns rapazes ofereceram-lhe boleia. Apesar de não os conhecer, aceitou a oferta porque pareciam simpáticos e, passados uns minutos, roubaram-lhe a carteira e, depois de a terem arrastado para fora do carro, fugiram. A rapariga chegou a casa a chorar e depois de ter ido com os pais apresentar queixa à esquadra da polícia, a mãe disse-lhe em casa:
– Filha, nós sabemos que és corajosa, mas, às vezes, confias demasiado em ti mesma e nos outros e arriscas. Olha que ser prudente não é a mesma coisa que ter medo. O medo não nos deixa confiar e a prudência é o cuidado que convém termos antes de enfrentar uma situação que não conhecemos bem. Duvidar, ponderar, questionar e refletir nas realidades em que nos envolvemos é fundamental. A prudência é a chave da sobrevivência e uma das principais qualidades e virtudes do ser humano. Vencer e ter sucesso na vida pressupõe decidir em cada momento ser prudente ou audacioso. Mas mais vale demonstrarmos prudência do que inconsciência.
A rapariga reconheceu que falhara e a falta de prudência que revelara ao aceitar a boleia de pessoas desconhecidas podia ter acabado muito pior e voltou a prometer estar mais atenta aos perigos que espreitam por toda a parte. No entanto, passada uma semana, foi à praia com uns amigos, afastou-se da zona concessionada que por estar com bandeira vermelha e indo para uma área não vigiada, quase se afogou. Valera-lhe a rápida intervenção dos nadadores-salvadores das proximidades e dos bombeiros que tiveram que levá-la para o hospital. Já em casa, o pai disse-lhe:
– Filha, hoje podias ter morrido porque voltaste a não ser prudente. O mar, tal como a vida, exige muito respeito. Olha, a prudência é uma espécie de arma defensiva que nos protege de situações complicadas e perigosas. Ser prudente é saber distinguir o que é bom e desejável daquilo que é necessário evitar porque é mau. Muitas vezes, a prudência é o maior ato de coragem e devíamos desconfiar em primeiro lugar de nós mesmos. Não correr riscos desnecessários é ser sensato e inteligente. A prudência não retira as pedras dos nossos caminhos, mas ajuda-nos a contorná-las com cuidado.
A jovem agarrou-se aos pais a chorar e disse-lhes que jamais esqueceria o susto daquele dia. Então, os pais ofereceram-lhe uma gatinha bebé de cor branca para a animar e ela ficou muito feliz. Decidiu chamar-lhe Prudência e, sorrindo, disse-lhes que prudência passaria a ser também o seu nome do meio.
Fonte: Imissio (Paulo Costa)