Crónica da Apresentação do Livro “Palavras ON para Vidas OFF”

Conforme convite e informação atempadamente divulgados, na quinta-feira dia 23 abril, pelas 21h30, no Salão Paroquial de Canidelo, teve lugar a apresentação do livro: “Palavras ON para Vidas OFF” de Padre Almiro Mendes.

Do programa constava uma encenação teatral da autoria da Dr.ª Carla João, a apresentação do livro que foi conduzida pelo Dr. Artur Santos Silva e uma entrevista ao Padre Almiro Mendes, realizada pelo apresentador Jorge Gabriel.

Na apresentação, o Dr. Santos Silva falou da sua relação pessoal com o Padre Almiro e da obra realizada na Paróquia de Ramalde, desejando que o mesmo venha a acontecer na nossa Paróquia de Canidelo. Referiu-se à imensa capacidade de comunicação do Padre Almiro e do modo como se aproxima de todas as pessoas. Em seguida, leu alguns dos excertos do livro, intercalados de reflexões pessoais sobre os mesmos. Classificou o livro de “muito bem pensado” e recomendou vivamente a sua leitura.

Seguiu-se a encenação da autoria da Dr.ª Carla João. Esta encenação pretendeu traduzir por imagens as palavras do Padre Almiro exaradas no livro ora apresentado. A apresentação foi aplaudida de pé, pela qualidade da apresentação e pela sua originalidade. O grupo de jovens que fez esta encenação veio de Ramalde e mereceu as felicitações do Padre Almiro, pelo talento e por serem as pessoas que são.

No seguimento da noite, o apresentador Jorge Gabriel, amigo pessoal do Padre Almiro, conduziu uma entrevista que foi mais uma conversa de velhos amigos.

Jorge Gabriel começou por dizer que embora o mais recomendado seja a leitura do livro, qual é o seu propósito: é um guia de comportamento?

O Padre Almiro afirmou que o livro não é para se dizer bem, mas para se fazer o bem com ele, lembrando que a receita da venda reverte a favor dos pobres de Portugal e da Guiné. Disse que este livro foi escrito nos momentos de espera e que nunca teve a aspiração de ser escritor, mas que o faz apenas para angariar fundos para ajudar quem mais precisa.

Referindo-se à situação que se vive no Mediterrâneo, actualmente, Jorge Gabriel perguntou onde está Deus, nestes momentos dramáticos?

O Padre Almiro disse que “Deus está à distância do coração”. Afirmou não saber o que Deus é, nem qual é a sua vontade. Se Deus precisasse de ser defendido matando, seria um ser muito fraco. A violência é sempre um grito aflito de fragilidade. Deus revela-se através das causas segundas, através das mãos dos homens e das suas boas acções.

Fazendo o paralelismo entre a situação vivida no Mediterrâneo e a perseguição que os judeus sofreram na 2.ª Guerra Mundial, Jorge Gabriel perguntou qual a diferença entre os actuais, perseguidos, emigrantes ilegais ou refugiados e os judeus, entre os quais estavam os mais de 30.000 a quem Aristides de Sousa Mendes concedeu a possibilidade de fugirem da Alemanha nazi.

O Padre Almiro disse que todos são pessoas. Há muitos políticos que são “pequenos” e que trazem problemas grandes. Não compreende como pode haver tantas religiões para um só Deus, e pior, como pode uma religião querer aniquilar outras em nome de Deus. Aristides de Sousa Mendes foi, nesta terra, a mais bela expressão de Deus.

Sabendo da grande paixão que o Padre Almiro tem por automóveis e corridas de automóveis, Jorge Gabriel perguntou como pode um padre conciliar essa paixão com o “ser padre”?

O Padre Almiro disse que sempre se preocupou, primeiro, em ser homem. E “Há-de Deus pedir-nos contas dos prazeres legítimos que não gozamos”. Só se deixa levar por esse prazeres legítimos se não prejudicar a sua missão. Contudo, um padre não pode viver só nas paredes da Igreja, ou acaba perturbado.

Num momento de bom humor e citando o seu pai, Jorge Gabriel perguntou o que faz Deus quando, no mesmo jogo, os benfiquistas e os portistas pedem a Deus que o seu clube ganhe?

O Padre Almiro disse que quando um portista pede a Deus para o Porto ganhar e um benfiquista pede a Deus para o Benfica não perder, não ouvindo as suas preces, Deus ajuda os dois.

Lembrando Leonardo Boff, teólogo defensor da Teologia da Libertação, Jorge Gabriel perguntou como pode haver uma Igreja pobre para os pobres? Onde está a pobreza no Vaticano?

O Padre Almiro disse que pode haver uma Igreja melhor que a sua, mas é esta Igreja que serve. A Igreja é Santa porque fundada por Cristo, mas pecadora porque continuada pelos homens. Há “pecados” que não ficam bem à Igreja, como a riqueza e há padres desonestos que se serviram de estruturas da Igreja para lavar dinheiro sujo. Essa tem sido uma bandeira do Papa Francisco: combater a corrupção dentro da Igreja. Manifestou o seu repúdio para com a pedofilia que afirmou não ser compatível com o ministério sacerdotal. Compreende que um padre se apaixone, mas não compreende que um padre abuse de crianças.

Jorge Gabriel continuou, perguntando pelo papel das mulheres da Igreja e até quando o Vaticano vai continuar a negar-lhes direitos?

O Padre Almiro disse que as mulheres têm um papel fundamental na igreja. Pode aceitar que o sacerdócio seja negado às mulheres por tradição (Cristo não ordenou nenhuma mulher), mas não por discriminação. Ontologicamente, as mulheres podem ascender ao sacerdócio, pois são iguais aos homens. Todavia, a mulher para ser digna não precisa de fazer tudo o que um homem faz na Igreja. Nossa Senhora revela o rosto materno de Deus.

Jorge Gabriel perguntou se a Igreja tem de deixar de ser PODER e passar a ser PALAVRA?

O Padre Almiro disse que a Igreja tem de ser Amor, tem de ser Mãe. A Igreja não deve julgar, mas acompanhar as pessoas, até porque as pessoas vão à Igreja pela fascínio e não pelo medo.

Jorge Gabriel perguntou que o Padre Almiro alguma vez se tinha arrependido de ser padre?

O Padre Almiro disse que há muitos acontecimentos que o podem fazer duvidar de Deus, mas nunca nega-l’O. Há sofrimentos que podem “esmagar” um padre, mas só deixaria de ser padre se perdesse a fé. Deus não é um dado adquirido, mas uma aventura, uma busca. Ser padre é fácil; difícil é permanecer padre.

Acerca da mudança padres de uma paróquia para outra, que tanta tinta tem feito correr, nos últimos tempos, Jorge Gabriel perguntou como lidou o Padre Almiro com a sua saída de Ramalde para Canidelo?

O Padre Almiro disse que veio para Canidelo porque o Senhor Bispo lhe disse que era preciso em Canidelo e aceitou essa missão. Afirmou não ter sido fácil cortar os laços com Ramalde: foi como perder a família, perder parte de si. Mas depressa ultrapassou a situação pois em Canidelo encontrou outra família. Não compreende que haja padres a dizer que não ao Bispo, estando ao serviço da Diocese.

Sendo amigo do Padre Albino, pároco de Vilar de Andorinho que aceitou paroquiar também Canelas, e sabendo o que está a sofrer em nome da Igreja, Jorge Gabriel pediu uns instantes de silêncio em sua homenagem. O Padre Almiro estendeu essa homenagem ao Bispo do Porto que atravessa, igualmente, um momento muito difícil.

Aproveitou para agradecer a todos os que se empenharam neste evento: o Dr. Santos Silva, a Dr.ª Carla João e o grupo de teatro, a Dr.ª Sameiro e a Dr.ª Isabel, pela organização, o Sr. Domingos pelo apoio e a D. Teresa pelo Porto de Honra que foi oferecido no final. Agradeceu a todos os técnicos envolvidos e a todos os presentes, nomeadamente as entidades oficiais, tendo afirmado que todos estão no seu coração.

Jorge Gabriel questionou-o sobre a construção da nova igreja, velha ansiedade do povo de Canidelo.

Não respondendo directamente à pergunta, o Padre Almiro disse que a sua maior preocupação é o ser humano. Só pecamos duas vezes: quando pensamos muito e fazemos pouco, e quando fazemos muito e pensamos pouco.

Tendo terminado a entrevista, a fadista Madalena Machado presenteou os presentes com dois fados: “Chuva”, de Jorge Fernando e “Foi Deus”, de Alberto Janes.

A apresentação terminou com a leitura do prefácio do livro, por Custódio Veríssimo.

Contudo, a noite só terminou com o Porto de Honra e com a assinatura de um jipe, oferecido para seguir para a Guiné.

Os muitos presentes tiveram a oportunidade de verem os seus livros autografados pelo autor, com a respectiva dedicatória.