Pela primeira vez, no dia 26 janeiro de 2020, no III Domingo do Tempo Comum do calendário litúrgico, o Papa Francisco institui o “Domingo da Palavra de Deus”, para promover a “familiaridade” com a Bíblia, “a celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus”.
“A Bíblia não pode ser património só de alguns e, menos ainda, uma coletânea de livros para poucos privilegiados”, escreve, na carta apostólica ‘Aperuit illis’.
“O dia dedicado à Bíblia pretende ser, não ‘uma vez no ano’, mas uma vez por todo o ano, porque temos urgente necessidade de nos tornar familiares e íntimos da Sagrada Escritura e do Ressuscitado, que não cessa de partir a Palavra e o Pão na comunidade dos crentes”, precisa o Papa.
Esta celebração decorre num momento em que decorrem tradicionalmente iniciativas que visam o diálogo entre as confissões cristãs e com o mundo judaico.
“Não se trata de mera coincidência temporal: a celebração do Domingo da Palavra de Deus expressa uma valência ecuménica, porque a Sagrada Escritura indica, a quantos se colocam à sua escuta, o caminho a seguir para se chegar a uma unidade autêntica e sólida”, explica Papa Francisco.
“Escutar as sagradas Escrituras para praticar a misericórdia: este é um grande desafio lançado à nossa vida. A Palavra de Deus é capaz de abrir os nossos olhos, permitindo-nos sair do individualismo que leva à asfixia e à esterilidade enquanto abre a estrada da partilha e da solidariedade”, escreve o Papa. De referir, que este domingo da Bíblia já tinha sido sugerido no final do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em novembro de 2016.
Francisco sublinha a importância da proclamação das leituras bíblicas, durante as celebrações litúrgicas, e das homilias, com recomendações aos sacerdotes.
“Não se pode improvisar o comentário às leituras sagradas. Sobretudo a nós, pregadores, pede-se o esforço de não nos alongarmos desmesuradamente com homilias enfatuadas ou sobre assuntos não atinentes”, aponta a carta apostólica.
O texto destaca que a Bíblia não é “uma coletânea de livros de história nem de crónicas”, assinalando a importância da “Tradição”.
“Antes de se tornar um texto escrito, a Sagrada Escritura foi transmitida oralmente e mantida viva pela fé dum povo que a reconhecia como sua história e princípio de identidade no meio de tantos outros povos. Por isso, a fé bíblica funda-se sobre a Palavra viva, não sobre um livro”, escreve o Papa.
Francisco encerra a carta apostólica com votos de que este “domingo dedicado à Palavra fazer crescer no povo de Deus uma religiosa e assídua familiaridade com as sagradas Escrituras”.
Simbolicamente, o documento é dado a conhecer na Memória litúrgica de São Jerónimo e início do 1600º aniversário da morte do responsável pela ‘Vulgata’, a mais conhecida tradução para o latim.