Era uma vez uma jovem que começara a trabalhar numa das empresas mais importantes da cidade. Os primeiros dias correram bem, apesar de ir notando que, aos poucos, os colegas a olhavam com alguma indiferença, desconfiança e aumentavam os cochichos nas suas costas.
A verdade é que a jovem chegava quase todos os dias atrasada ao emprego e, de vez em quando, faltava. Os colegas recriminavam-na pela sua falta de responsabilidade, até porque era nova na empresa e de certeza que precisaria daquele salário e de causar boa impressão para não ser despedida. Ao mesmo tempo, não achavam bem que os responsáveis diretos do seu setor de trabalho não condenassem a sua falta de profissionalismo. Então, um dia, o responsável da secção em que trabalhava a jovem juntou os trabalhadores e disse-lhes:
– Não devemos julgar quem quer que seja e se não compreendemos alguma coisa, o melhor mesmo é não tecer considerações que podem ser injustas e desadequadas. Quem não for capaz de compreender um olhar não conseguirá compreender uma longa e profunda explicação. É que não é o estudo que ensina a capacidade da compreensão, apesar de que a recompensa do estudo é a compreensão. Nós receamos aquilo que foge à nossa compreensão, mas conhecer permite compreender e compreender permite conhecer e mais importante do que saber as respostas é compreender as perguntas da vida. Se escutássemos mais e falássemos menos, compreenderíamos muito melhor todas as coisas. E fico por aqui.
A jovem percebeu que aquele discurso todo se relacionava consigo e com o desdém e pouca compreensão que os colegas revelavam com a sua falta de pontualidade e assiduidade. Nos dias seguintes, a jovem deu-se conta de que havia a preocupação de alguns colegas em lhe mostrarem alguma simpatia e meter conversa, mas ela era muito tímida e via-se que, a cada dia que passava, parecia mais distante e cansada, chegando mesmo a adormecer na mesa de trabalho, o que fez aumentar novamente os comentários depreciativos e já se lamentava mais uma vida destruída pela droga ou pelo álcool. Então, o responsável da secção voltou a reunir o grupo de trabalhadores e disse-lhes:
– Não compreendemos bem as pessoas nem a vida e, por isso, podemos enganar-nos, mas mais vale compreender pouco do que compreender mal. Para compreender as pessoas, mais importante do que perceber o que dizem é estar atento àquilo que não dizem. Se procurássemos saber o que está por trás de muitas atitudes, compreenderíamos o porquê das coisas e acolheríamos melhor as pessoas. Compreender pressupõe a humildade de se colocar no lugar do outro e a verdade é que a compreensão abre todas as portas. É importante conhecer e compreender o passado para viver o presente e olhar o futuro com mais consciência e responsabilidade. Não temos de pensar da mesma forma ou fazer as mesmas coisas, mas é importante pensarmos e fazermos as coisas juntos e isso pede que nos abramos aos demais e nos deixemos cativar. Eu não vi nenhum de vocês a aproximar-se da vossa colega e a disponibilizar-se para escutá-la, ajudá-la e tentar compreendê-la.
Então, a jovem decidiu acabar com as especulações e pediu desculpa por não ter conseguido até ao momento trabalhar a cem por cento e relacionar-se com os colegas de uma forma aberta. Disse-lhes que aquele emprego lhe tinha sido oferecido pelo patrão da empresa num dia em que lhe batera à porta a pedir uma esmola para poder alimentar a sua bebé. O pai da criança desaparecera sem deixar rasto antes mesmo de ter dado à luz, deixara de estudar para criar a bebé, estava desempregada e a mãe falecera há pouco tempo, tendo de ajudar o progenitor que estava doente.
Os colegas choraram com aquela confissão e todos foram abraçá-la longamente, pedindo-lhe desculpa pela sua falta de compreensão. Arranjaram-lhe casa para poder viver com o pai e a bebé gratuitamente e nunca mais faltou nada à colega.
Fonte: Imissio