Escola da Fé – 4ª sessão

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No passado dia 8 de Janeiro, teve lugar a 4.ª sessão da Escola da Fé, neste ano Pastoral de 2015/2016, subordinada ao tema: Obras de Misericórdia Espirituais.

Depois das boas-vindas dadas pelo Dr. Manuel António, a oração inicial foi feita sob a forma do Cântico: “Onde há Caridade e Amor aí habita Deus.”

PARTE I

Continuando, o Dr. Manuel António, referiu a redundância que existe entre Caridade e Amor. Contudo, a Caridade, derivada de caro, deve ter um valor inestimável para nós. Seguidamente fez uma breve análise às obras de misericórdia espirituais que relembrando são:

1- Dar bom conselho, aconselhar os indecisos

2- Ensinar os ignorantes

3- Corrigir os que erram

4- Consolar os tristes e aflitos

5- Perdoar as ofensas e injúrias

6- Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo

7- Rezar a Deus pelos vivos e pelos defuntos.

 Afirmou que estão interligadas com as obras de misericórdia corporais e que não fáceis de pôs em prática, tendo citado a obra 5 que nos manda perdoar as ofensas e injúrias.

O Papa Francisco propõe aos jovens que escolham uma obra de misericórdia para cada mês do ano e façam os possíveis para a pôr em prática. Também nós podemos seguir esta proposta.

Seguidamente, comentando o excerto da mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz de 2016, disse que nós não queremos sofrer, mas que manifestamos muita indiferença com o sofrimento dos outros, que se banalizou nos meios de comunicação social. Vemos as desgraças dos outros na comodidade do nosso sofá e já não mexem connosco. Temos de ser mais humanos para sermos mais solidários. É necessário ver as nossas fragilidades para sermos mais pacientes com os outros

As obras de misericórdia são a nossa responsabilidade no terreno às necessidades dos outros.

Esta sessão prosseguiu com o testemunho de Margarida Ferreira que é voluntária há 5 anos e pertence à Associação Foste visitar-me, que conta com 34 visitadores de reclusos.

No distrito do Porto há duas cadeias: a cadeia de Custóias, que só tem homens, e a cadeia de Santa Cruz do Bispo que tem homens e mulheres. É junto destas mulheres que a Margarida exerce o seu magistério.

Começou por partilhar connosco a oração “Foste visitar-me”, que podem ver como anexo, que rezam antes de entrarem no estabelecimento prisional. Costumam ir 4 ou 5 visitadores e ficam lá das 9 horas até às 11, 30 ou 12 horas. Vão visitar e não catequisar, os presos que não têm visitas. Informou que em Santa Cruz do Bispo, a parte reservada às mulheres têm 4 alas, a Ala das Mães, as alas 2 e 3, onde estão as reclusas condenadas e a Ala 4, onde se encontram as reclusas que estão em prisão preventiva. Os visitadores são as únicas pessoas que vão às alas, pois as restantes visitas vão ao parlatório. São o único amigo que chega quando todos os outros partiram. Vão levar carinho humano a pessoas que perderam a liberdade mas não deviam perder mais nada.

Alguns presos não vêem os filhos há mais de 4 anos e alguns não têm visitas há mais de 8 anos. Informou que a população feminina reclusa representa 8% da população reclusa total. Em consequência só existem 2 cadeias para mulheres: Santa Cruz do Bispo, no Norte e Tires, no Sul. As distâncias dos lugares de origem destas mulheres ficam, por vezes muito distantes da cadeia onde elas se encontram, o que obsta a que possam ter mais visitas.

Os visitadores tratam os presos pelo nome e não por números. Partilhou o caso de uma reclusa que lhe pediu um abraço porque precisava de conforto pela situação frágil em que se encontrava. Contou também que já foi buscar filhos de reclusas para irem ver as mães e sentiu isso como ”ganhar vida”. Passa sábados a escrever cartas de amor ao marido de uma reclusa analfabeta e a ler-lhe as cartas de amor do marido. É essa a grande intimidade que se pode chegar a encontrar nestas visitas.

Há falta de opções de vida e de cultura. Há situações de reclusas em Santa Cruz do Bispo cujos maridos estão presos em Custóias. Os visitadores fazem de “pombos-correio”. A Margarida contou que mantêm relações de amizade com ex-reclusas. Contou o caso de uma reclusa grega que, sendo da União Europeia, não tem direito a saídas precárias e não há nada preparado no exterior para receber cidadãos da EU. Por isso, no dia em que ela saiu, a Margarida foi buscá-la e levou-a para uma casa que lhe tinham arranjado. Ao voltar a falar com ela ao fim do dia, verificou que ela estava com vertigens da liberdade e que disse ter feito uma loucura: foi comprar queijo fresco, tomate e azeite e, ao saboreá-los, disse ter sentido o Sabor da Grécia.

Os visitadores estabelecem com os reclusos uma relação biunívoca e recíproca. Falou de um clube literário, com aproximação à poesia, que criaram na cadeia. A poesia ajuda os reclusos a libertar a alma. Decidiram fazer uns postais para entregar, no Natal, aos reclusos. Terminou, partilhando com tosos os presentes a resposta de um recluso. Esta carta pode ser consultada em anexo.

O Padre José Maria agradeceu o testemunho e esta parte foi encerrada com o Cântico “A Alegria do Evangelho”.

PARTE II

Seguiu-se um trabalho de grupo em que se falou sobre as seguintes questões:

1- O que me disse e em que mais me tocou o testemunho escutado?

2- Que dificuldades pessoais tenho para concretizar, na prática, o caminho proposto pelas obras de misericórdia?

PARTE III

Esta parte constou de um plenário com partilha espontânea.

A Domingas veio falar de um encontro com uma mulher tida como bruxa, na sua juventude, que a deixou muito assustada. Anos passados acabou por ser vizinha dessa mulher que, nessa altura, sofria de muitos problemas de saúde. Tratou-a e tratou-lhe da casa e levava-lhe o pequeno-almoço. Assistiu à sua morte e deu-lhe todo o aconchego que conseguiu, tendo-lhe pedido que junto do Senhor rogasse pela sua saúde para poder continuar a ajudar outros necessitados. Como Ministro Extraordinário da Comunhão tem visitado muitos doentes, ao mesmo tempo que lhes leva a sagrada comunhão. Deixou um apelo a que todos trabalhemos para o Senhor, a quem chama “patrão”.

O Rui Pinho disse que nem todos podem ser visitadores, mas há outras missões. Ser catequista também é voluntariado e é muito difícil. Partilho o facto de, quando andou na tropa, escrever muitas cartas para a esposa de um colega e de lhe ler as cartas dela. Lembrou que esse colega lhe costumava dizer: Ó Rui, lê mas não ouças. Agradeceu o testemunho da Margarida e disse que, nos nossos ambientes, temos muito para visitar e muito para fazer.

A Maria José Necho disse que lhe tocou o facto de a Margarida não julgar os reclusos e isso não é fácil. É necessário ver que cada pessoa é a pessoa e as suas contingências. Há situações em que pode realmente não haver tempo para voluntariado organizado. Mas as obras de misericórdia podem ser sempre postas em prática.

A Manuela Baptista pediu informações sobre como ser visitador (a).

A Margarida disse que há um estágio antes de se ser visitador e há sempre necessidade de visitadores. Não veio, contudo, recrutar ninguém, mas apenas dar o seu testemunho. Deixará o contacto no Cartório Paroquial para alguém interessado.

O Padre José Maria concluiu que se reza muito pelos mortos, mas pelos vivos, nem por isso. Afirmou não ser tempo perdido ir ao encontro das necessidades dos outros, através da oração. Apreciou o facto de a Margarida usar a palavra “magistério” pois ir visitar as presos é um dom.

PARTE IV

Após a leitura do excerto da Primeira Carta aos Coríntios (13, 4-8.13), pediu que nos lembrássemos de recordar ao Senhor as pessoas mais carecidas e mais necessitadas de que temos conhecimento. Após oração em silêncio por todos os irmãos, esta sessão da escola da Fé, concluiu-se com a recitação do Pai Nosso.