Conto: A montanha dos sacrifícios

Era uma vez um rapaz que era muito preguiçoso e vivia a fugir de tudo quando desse muito trabalho ou exigisse muito esforço. Procurava sempre o caminho mais curto e cómodo e estava sempre a ver como escapar das dificuldades da vida. O sofrimento era uma palavra que não constava do seu dicionário e tudo quanto lhe pudesse provocar desconforto e sacrifício era posto de lado.

Cansado de lhe dar bons conselhos e insistir na sua mudança de atitudes perante a vida, o pai desafiou-o a subir uma montanha que ficava a poucos quilómetros da sua terra, dizendo-lhe que teria uma bela recompensa se conseguisse chegar ao topo. Apesar de não lhe apetecer mesmo nada empreender aquela escalada, aceitou.

O rapaz levou consigo uma mochila que o pai lhe preparara para que levasse na sua aventura, mas ela era tão pesada que, após umas centenas de metros de subida, deitou quase tudo para fora, ficando apenas com alguma coisa para comer e beber.

Passado algum tempo, o rapaz deparou-se com um rio com águas revoltas e lembrou-se que o serrote, o martelo e os pregos que tinha na mochila e tinha deitado fora teriam sido muito úteis para construir uma jangada. Assim, teve de andar bastante até encontrar um local mais favorável para passar e mesmo assim teve de ser a nado. Quando chegou à outra margem, encontrou um velhinho que lhe disse:

– Muito bem, meu jovem. Custou, mas valeu a pena. O sucesso não acontece por acaso. É trabalho duro, perseverança, aprendizagem, sacrifício e, acima de tudo, amor pelo que queremos. Sacrifício não significa nem amputação nem penitência. Ele é uma oferta de nós próprios pelos nossos sonhos, projetos e ideais. A grandeza exige sacrifícios e somente com eles se atinge a sabedoria e a perfeição.

O rapaz agradeceu-lhe as palavras sábias e inesperadas e continuou o seu caminho. Passado algum tempo, encontrou uma zona pantanosa com vegetação muito densa e muitas silvas e ramos e logo se lembrou das galochas e da catana que o pai lhe pusera na mochila e que deitara fora para não pesar tanto. Lamentou a decisão pois ficou todo encharcado, escorregou várias vezes e magoou-se e lá teve de caminhar muito para evitar aquela parte da montanha. Quando chegou a terra seca, encontrou novamente o idoso que lhe falara umas horas antes, que lhe disse:

– Boa, rapaz. Apesar das dificuldades que encontraste, conseguiste chegar aqui. Não existe verdadeira vitória nem conquista sem esforço e sacrifício. Não existe triunfo sem perda, não há êxito sem sofrimento, não há liberdade sem sacrifício. Sem dor não haverá ganho e sem perseverança nada terá sentido nem terá valido a pena.

O rapaz voltou a agradecer ao homem e continuou a sua caminhada, apesar de se sentir quase sem forças. Estava determinado em chegar ao topo da montanha e, sem que nada o fizesse prever, começou a chover torrencialmente e viu um enorme penhasco à sua frente. Lembrou-se, então, que também retirara da mochila um impermeável e uma corda de escalada. Arrependido de ter sido tão tonto e insensato, lá trepou como pôde, empoleirou-se onde era possível, arranhando-se e caindo inúmeras vezes, e ao chegar ao cume da montanha, viu surpreendentemente o pai que o abraçou e disse:

– Parabéns, meu filho, conseguiste chegar aqui, apesar da tua teimosia. Acompanhei-te ao longo da tua caminhada pois o velhote que te falou várias vezes era eu. Olha, quis dar-te uma lição… Nada se consegue na vida sem sacrifício, esforço e renúncia. Até Jesus teve de sofrer imenso para nos salvar e era o Filho de Deus. Podemos julgar o nosso sucesso pelas coisas que temos de renunciar para conseguir realizar os nossos sonhos. Por isso, os obstáculos, as adversidades e os sacrifícios são as ferramentas da mochila da nossa existência que nos farão crescer, amadurecer e ser felizes.

O filho estava exausto, mas orgulhoso da caminhada que empreendera e das aprendizagens que realizara e quando perguntou ao pai onde estava a recompensa que lhe prometera, ele disse-lhe que escutasse o vento, contemplasse o pôr do sol e observasse as cores do arco-íris.

Fonte | IMISSIO (Paulo Costa)